quarta-feira, 3 de novembro de 2010

A Caligrafia de Deus

“A Bíblia foi escrita por homens!” Essa é uma das frases que os crentes mais escutam quando testemunham do amor de Deus e o suplício de Jesus Cristo no Calvário. O ceticismo e a rebeldia contra Deus motivam ardentemente os ataques àqueles que vivem segundo às Escrituras.

Felizmente, o crente que vive segundo as Escrituras também as conhece.  Ele não se abala, pois se fortalece na própria Palavra de Deus que o conforta dizendo: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça, para que o homem de Deus seja apto e plenamente preparado para toda boa obra” (2Tm 3.16,17).

O constrangimento dessa acusação também é dissipado como a neblina diante do Sol quente da manhã, pois o Espírito Santo também o auxilia a recordar a defesa do apóstolo Pedro sobre a revelação bíblica: “Antes de mais nada, saibam que nenhuma profecia da Escritura provém de interpretação pessoal, pois jamais a profecia teve origem na vontade humana, mas homens falaram da parte de Deus, impelidos pelo Espírito Santo” (2Pe 1.20,21).

Entretanto, é importante lembrar que a Palavra de Deus não é apenas um texto inspirado por Deus, mas que também contém textos “escritos” pelo próprio Deus. Esses episódios são tão escassos em meio à imensidão da inspiração que nos esquecemos de agregá-los aos versículos supracitados na defesa da fé cristã.

Ademais, antes de os conhecermos, não podemos nos esquecer que a inerrância das Escrituras não se altera quando lemos os escritos de homens movidos por Deus ou pelos próprios escritos do próprio Deus. Quando Deus escreve ou move um homem a escrever sua Palavra inspirada, o resultado é o mesmo: tão somente a Palavra de Deus.

Reflitamos sobre quatro lugares que contém a escrita divina, posteriormente registrada por escritores humanos.

1. As Tábuas do Monte Sinai
“Quando o Senhor terminou de falar com Moisés no monte Sinai, deu-lhes as duas tábuas da aliança, tábuas de pedra, escritas pelo dedo de Deus” (Ex 31.18).

“Disse o Senhor a Moisés: ‘Talhe duas tábuas de pedra semelhantes às primeiras e nelas escreverei as palavras que estavam nas primeiras tábuas que você quebrou” (Ex 34.1).

Nesse primeiro exemplo, Deus, dando início à aliança mosaica (ou sinaítica), escreve a Lei que os judeus deveriam obedecer. A ênfase na decisão do próprio Deus escrever esse conjunto de leis pode ser notada no segundo versículo: Deus ordena a Moisés a talhar pedras para que Ele refizesse sua escrita. Visto que Moisés havia quebrado as primeiras tábuas, Deus reescreve seus preceitos a fim de que os hebreus pudessem honrar ao seu libertador de maneira digna.

Como está escrito, nenhum homem, com exceção de Cristo, cumpriu ou cumprirá a Lei. E, tropeçando em um único preceito, quebram-se todas as outras ordenanças. Essa Lei escrita em pedra, assim como um espelho, é útil para mostrar quão maculado é o coração do homem.

2. Os Corações dos Incrédulos
“Todo aquele que pecar sem a lei, sem a lei também perecerá, e todo aquele que pecar sob a lei, pela lei será julgado. Porque não são os que ouvem a lei que são justos aos olhos de Deus; mas os que obedecem à lei, estes serão declarados justos. De fato, quando os gentios, que não têm a lei, praticam naturalmente o que ela ordena, tornam-se lei para si mesmo, embora não possuam a lei; pois mostram que as exigências da lei estão gravadas em seus corações. Disso dão testemunho também a consciência e os pensamentos deles, ora acusando-os, ora defendendo-os. Isso acontecerá no dia em que Deus julgar os segredos dos homens, mediante Jesus Cristo, conforme o declara o meu evangelho” (Rm 2.12-16).

Nesse segundo exemplo, Deus enfatiza que a ignorância a respeito dos seus preceitos não pode ser alegada como defesa, pois os corações humanos têm as leis de Deus escritas por ele mesmo. Mais importante ainda é o sentido escatológico que se tem desses escritos de Deus: “O dia em que Deus julgar os segredos dos homens”.

Assim como um arquivista resgata documentos de um “arquivo morto”, Deus resgatará seus próprios escritos negligenciados pelos seres humanos. A “cauterização da consciência” dos incrédulos apenas empoeira os escritos de Deus, mas não os apaga. No julgamento final, Deus soprará essa poeira, não para dar vida, como ocorreu na criação, mas para dar a morte eterna.

3. Os Corações e Mentes dos Crentes
“Vocês demonstram que são uma carta de Cristo, resultado do nosso ministério, escrita não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas em tábuas de corações humanos” (2Co 3.3).

“O Espírito Santo também nos testifica a este respeito. Primeiro ele diz: ‘Esta é a aliança que farei com eles, depois daqueles dias, diz o Senhor. Porei as minhas leis em seus corações e as escreverei em suas mentes’; e acrescenta: ‘Dos seus pecados e iniquidades não me lembrarei mais’” (Hb 10.15-17).

No terceiro escrito, Deus enfatiza a importância da obediência aos seus preceitos, assim como fez ao refazer os escritos nas pedras que antes foram quebradas por Moisés. Todavia, a caligrafia divina se perfaz não em pedras, mas na mente e coração humanos. Essa caligrafia impele o crente a obedecer alegremente a Deus, pois o Espírito Santo selou tais vidas para a glória eterna quando creram no Senhor Jesus Cristo, o Salvador.

Quando a lei permanece somente escrita em pedras, dos corações humanos transbordam o desprezo e a blasfêmia, assim como fizemos no passado. Entretanto, robustecendo a graça em interessante arranjo dos versículos pelo autor de Hebreus, o mesmo Deus que escreve nos corações dos crentes apaga os pecados e iniquidades cometidos pelos seus filhos.

4. O Livro da Vida
“Sim, e peço a você, leal companheiro de jugo, que as ajude; pois lutaram ao meu lado na causa do evangelho, com Clemente e meus demais cooperadores. Os seus nomes estão no livro da vida” (Fp 4.3).

“A besta que você viu era e já não é. Ela está para subir do abismo e caminha para a perdição. Os habitantes da terra, cujos nomes não foram escritos no livro da vida desde a criação do mundo, ficarão admirados quando virem a besta, porque ela era, agora” (Ap 17.8).

“Nela jamais entrará algo impuro, nem ninguém que pratique o que é vergonhoso ou enganoso, mas unicamente aqueles cujos nomes estão escritos no livro da vida do Cordeiro” (Ap 21.27).

No último exemplo dos escritos de Deus, temos, basicamente, um epílogo de todos os escritos divinos: o Livro da Vida. Nesse livro estão os nomes daqueles que sabem que são incapazes de cumprir a lei de Deus grafada na pedra (seja na “tábua de pedra” ou no “coração de pedra”) e creram no Senhor Jesus Cristo, sendo presenteados com a substituição do velho coração pétreo por um coração de carne grafado pelo próprio Deus.

Nenhum dos escritos de Deus se perderá. Todos os seus escritos vêm sendo armazenados em sua biblioteca particular. Todavia, essa biblioteca divina está dividida em duas partes: o céu – onde o dono da biblioteca habita – e o inferno – o suplício eterno onde a esperança morreu. Todo ser humano contém pelo menos um escrito de Deus, a saber, aquele escrito no coração de pedra. Os que creem, como vimos acima, tiveram seus corações de pedra transformados e reescritos pelo Deus-trino. Dessa forma, têm seus nomes escritos pelo mesmo autor (Deus) no Livro da Vida.

A cada dia, “livros” e mais “livros” têm sido “guardados”. Segundo as estatísticas mundiais do The World Factbook (CIA), mais de 146 mil pessoas morrem por dia em todo o mundo (duas pessoas por segundo). Sim, é uma vastíssima biblioteca!

Em qual parte da biblioteca o livro que leva o seu nome será guardado?

Leandro Boer

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