O terceiro traço das igrejas pós-modernas, o afrouxamento ético/moral, é consequência lógica tanto da hermenêutica subjetiva como do discurso conciliador. Com efeito, atribuindo à Bíblia uma variedade ilimitada de sentidos, o cristão pós-moderno, em situações que exigem a tomada de decisões no campo moral, fatalmente escolherá a interpretação mais cômoda, que melhor se ajuste aos seus interesses pessoais. Ademais, adotando um discurso conciliador embasado na crença de que a verdade não é única, o novo cristão aplicará essa forma de pensar também às questões éticas, dizendo que não se podem condenar as opções de comportamento de ninguém.
Unindo isso tudo, o resultado é previsível e óbvio: as igrejas pós-modernas, invariavelmente, revelam posicionamentos muito frouxos em relação a temas como namoro misto, sexo fora do casamento, divórcio, homossexualismo, envolvimento do cristão com o mundo e uso de álcool, cigarro ou mesmo drogas. Em decorrência dessa frouxidão, os membros das igrejas pós-modernas que adotam posturas claramente antibíblicas acerca dos temas mencionados ou de outros assuntos ligados à ética cristã não recebem qualquer correção. Na verdade, nada diferente poderia ser esperado, pois, como já dito, na visão pós-moderna, dizer o que é errado é errado!
Cabe aqui uma observação importante: o fato de as igrejas pós-modernas apresentarem tão nítida frouxidão ético/moral talvez seja a causa do seu espantoso crescimento. Multidões lotam seus salões na busca não de correção, mas de qualquer discurso que gere conforto e bem-estar, longe do incômodo produzido pela pregação da pura Palavra de Deus, capaz de ferir as consciências e infundir arrependimento. É que, conforme disse o profeta Jeremias, “a palavra do Senhor é para eles desprezível, não encontram nela motivo de prazer” (Jr 6.10). Além disso, sabe-se que é próprio da natureza humana corrupta cercar-se de mestres que não se opõem às suas paixões (2Tm 4:3).
O último traço do evangelicalismo pós-moderno é a ênfase excessiva dada à liberdade humana. Nesse modelo, o crente não é apenas livre para interpretar a Bíblia como quiser e, consequentemente, adotar o modelo ético que quiser. Sua liberdade vai além. Mais do que ser dono de suas verdades e dos seus caminhos, o cristão pós-moderno considera-se também dono do seu destino!
Ocorre o seguinte: a mente pós-moderna tem dificuldades para aceitar a presciência de Deus ensinada na Bíblia (Is 46.8-10; Jo 21.18-19), pois, se Deus conhece de antemão o amanhã, então, o futuro é fixo e o homem, no fim das contas, não é livre. Esse dilema é real para qualquer cristão, estando sua solução escondida na mente insondável de Deus, verdade que deve ser suficiente para aquietar qualquer questionamento (Rm 9.19-20). Diante dessa dificuldade, porém, o crente pós-moderno não passa apertos. No afã de resguardar o ser humano, resolve tudo dizendo simplesmente que Deus não conhece o futuro, estando o porvir aberto à influência do homem que pode escrevê-lo a partir do livre exercício de sua vontade. Essa concepção de Deus e suas relações com o mundo é uma das características do modelo teológico denominado Teísmo Aberto.
Percebe-se assim, que a hipervalorização da vontade livre do indivíduo é a mola mestra do pensamento cristão pós-moderno. Conforme visto, a partir de suas concepções, o crente é livre para atribuir às Escrituras o sentido que quiser; é livre para construir a ética que quiser e é livre para dirigir a história como quiser. Trata-se do império do indivíduo cuja abrangência chega ao ponto de destronar o próprio Deus a fim de preservar a supremacia da liberdade humana.
No fim das contas, o impacto mais desastroso dessa mentalidade sobre a Sã Doutrina é a criação de um deus impotente e ignorante, que lamenta as desventuras da raça humana, mas que pouco pode fazer, já que a administração da história depende também do homem e qualquer interferência divina soberana implicaria imposição de vontade, tornando Deus culpado por não agir de modo “policamente correto”. Não restam dúvidas, pois, de que o deus do cristianismo pós-moderno não é o Deus das Escrituras. Trata-se de outro deus, com tremendas limitações. É lamentável, mas o que se deduz da análise desses conceitos é que criou, pois, o Homem um deus à sua própria imagem, à imagem do Homem o criou...
Pr. Marcos Granconato
Soli Deo gloria
Soli Deo gloria
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