quarta-feira, 10 de novembro de 2010

‘DNA’: Como Identificar a Descendência de Caim?

“Por que você não faz um teste de DNA?” Embora os “testes de DNA” façam parte dos dias atuais, sua descoberta (ADN – ácido desorribonucléico, em português) ocorreu há muito tempo, em 1869. Naquele tempo, dez anos antes da invenção da lâmpada elétrica, o bioquímico suíço Johann Friedrich Miescher isolou o DNA de leucócitos de ataduras com pus. O pus era muito abundante nos ferimentos, visto que o primeiro antibiótico só viria a ser descoberto 59 anos depois pelo bacteriologista londrino Alexander Fleming. Como o pus contém grande quantidade de leucócitos e os núcleos dessas células são relativamente maiores que outras células, os experimentos avançaram e a “nucleína” (primeiro nome que o DNA recebeu) foi isolada.

Muitos cientistas continuaram o trabalho feito por Miescher, mas apenas em 1953 o DNA foi postulado como uma dupla hélice de bases nitrogenadas (os nucleotídeos) por James D. Watson e Francis Crick. Desde então, as pesquisas envolvendo o DNA se multiplicaram e diversas ciências se beneficiam dos seus resultados.

Qualquer ser humano tem seu DNA (aproximadamente 3 bilhões de pares de bases) 99,9% igual a qualquer outro ser humano. A diferença que nos cabe advém de um detalhe: 0,1%. Ou seja, na “sopa (de bilhões) de letrinhas” “A” (adenina), C (citosina), T (timina) e G (guanina), apenas 0,1% delas varia de um ser humano para outro. Entretanto, esse detalhe é o suficiente para vermos todo o tipo de beleza do ser humano e aguçar a curiosidade de pais para ver o rostinho do bebê ao nascer. Esse detalhe também tem sido muito útil para a justiça, pois, em 1987, o DNA entrou nas cortes estadunidenses para nunca mais sair.

Tristemente, é incrível como esse detalhe de “0,1%” também tem proporcionado todo o tipo de preconceito entre os seres humanos. Não é necessário comentar os inúmeros extermínios e genocídios que já ocorreram na história humana por causa do “0,1%”. Frank Lloyd Wright, um arquiteto americano, disse, certa vez: “O diabo está nos detalhes”. Esse arquiteto não tinha em mente o genoma humano quando proferiu essa frase, mas, ironicamente, ela também pode ser usada nesse exemplo.

As aplicações do teste vão além dos testes de paternidade/maternidade ou evidências de estupros ou crimes, como se pode notar nos seriados e filmes policiais. Pelo DNA, geógrafos, historiadores (especialmente os paleoantropólogos), por meio do conceito de gene flow (fluxo genético) têm estudado os padrões migratórios dos seres humanos ao longo dos tempos.

Remetendo ao título desse artigo, a proposta é justamente analisar a descendência de Caim. Não estamos preocupados com a “descendência genética” de Caim, pois ela foi destruída pelo dilúvio (Gn 6.3-13). Como a Palavra de Deus explica, a ascendência de Noé e sua família leva a Sete, o irmão “concedido” (significado do nome) à Eva por Deus em lugar de Abel.

Embora a descendência genética de Caim tenha sido destruída pelo dilúvio, uma “descendência” perigosa para o povo de Deus se manteve: a “descendência espiritual de Caim”.* Essa é mais frequente do que imaginamos. Os descendentes podem estar dentro das igrejas ou fora delas. Trata-se de pessoas que parecem buscar a Deus, como Caim, que até levou uma oferta ao Senhor. Mas, como seu antecessor espiritual, têm o coração longe de Deus. Quando estão dentro da igreja, até se parecem com crentes. Quando estão fora, muitas vezes se diz deles: “Só falta ser crente!”.

Façamos, então, o “teste de DNA”, ou melhor, o “teste do ADN” (em português) a fim de identificarmos os detalhes que discriminam os descendentes espirituais de Caim.

1. TESTE “A” (“A”creditar em Deus).

Os descendentes de Caim não são ateus. Eles creem em Deus e podem até se sentir ofendidos quando alguém diz que não respeitam ou creem em Deus. Caim não só cria como também se relacionava com Deus: “O Senhor disse a Caim: Por que você está furioso? Por que se transtornou o seu rosto?” (Gn 4.6).

Crer em Deus e até conversar com ele, como vemos no caso de Caim, não faz com que nenhum ser humano seja automaticamente salvo por Jesus Cristo. As Escrituras dizem que Caim pertencia a Satanás (1Jo 3.12) e, assim como seu pai – o diabo – cria e conversava com Deus: “Você crê que existe um só Deus? Muito bem! Até mesmo os demônios creem — e tremem!” (Tg 2.19).

Segundo o critério “A”, os descendentes de Caim também “acreditam” em Deus. Eles não são ateus como os citados no Salmo 14.1: “Diz o tolo em seu coração: ‘Deus não existe’. Corromperam-se e cometeram atos detestáveis; não há ninguém que faça o bem” (Sl 14.1). Assim, esse teste não consegue fazer com precisão a discriminação entre os crentes e os descendentes de Caim já que ambos acreditam em Deus, mesmo que, para um deles, isso não seja motivo de transformação de vida.

2. TESTE “D” (“D”OADOR DE BÊNÇÃOS).

Os descendentes de Caim sabem que suas propriedades físicas, intelectuais e emocionais são doadas por Deus. Eles reconhecem muitas vezes que Deus os ajudou em algum projeto, que o sucesso de algum empreendimento se deu por causa da intervenção divina e até reconhecem que enfermidades fatais foram curadas pela ação de Deus. Caim, como agricultor, reconhecia que os frutos da terra provinham da mão de Deus. E não apenas reconhecia o “Doador”, mas ofertava do seu trabalho a Deus: “Voltou a dar à luz, desta vez a Abel, irmão dele. Abel tornou-se pastor de ovelhas, e Caim, agricultor. Passado algum tempo, Caim trouxe do fruto da terra uma oferta ao Senhor” (Gn 4.2,3).

Caim, assim como seu pai – o diabo (1Jo 3.12) – reconhecia que suas propriedades provinham de Deus: E [Satanás] lhe disse [a Jesus Cristo]: ‘Eu lhe darei toda a autoridade sobre eles e todo o seu esplendor, porque me foram dados e posso dá-los a quem eu quiser” (Lc 4.6).

A doação a Satanás foi de tal monta que as Escrituras dizem que ele é o “príncipe deste mundo”: “Nos quais costumavam viver, quando seguiam a presente ordem deste mundo e o príncipe do poder do ar, o espírito que agora está atuando nos que vivem na desobediência” (Ef 2.2); “E do juízo, porque o príncipe deste mundo já está condenado” (Jo 16.11).

As Escrituras enfatizam que Deus é doador de bênçãos a pessoas justas e injustas, dizendo: “Porque ele faz raiar o seu Sol sobre maus e bons e derrama chuva sobre justos e injustos” (Mt 5.45b). Isso faz com que não seja raro um descendente de Caim desfrutar de bênçãos desse tipo e, motivado por essa ideia, frequentar igrejas cristãs e até dar seus “dízimos e ofertas”. Na verdade, não é raro um descendente de Caim fazer parte do “rol de membros” de qualquer igreja.

Segue que o teste “D” não consegue fazer totalmente a discriminação entre os crentes e os descendentes de Caim.

2. TESTE “N” (“N”EGLIGÊNCIA COM O PECADO).

O diabo está nos detalhes? Talvez, sim. Note que a descendência espiritual de Caim pode ser discriminada da descendência espiritual de Sete por um “detalhe” – o teste “N”.

As Escrituras dizem que Caim não dominou o pecado que havia em seu coração, mesmo após a repreensão do próprio Deus: “Se você fizer o bem, não será aceito? Mas se não o fizer, saiba que o pecado o ameaça à porta; ele deseja conquistá-lo, mas você deve dominá-lo. Disse, porém, Caim a seu irmão Abel: ‘Vamos para o campo’. Quando estavam lá, Caim atacou seu irmão Abel e o matou” (Gn 4.7,8).

Em contrapartida, as Escrituras dizem que “pela fé Abel ofereceu a Deus um sacrifício superior ao de Caim. Pela fé ele foi reconhecido como justo, quando Deus aprovou as suas ofertas. Embora esteja morto, por meio da fé ainda fala” (Hb 11.4).

Então, cabe a pergunta: como Caim não tinha “fé” se ele cria em Deus e até reconhecia que as bênçãos do seu trabalho vinham do Criador?

A resposta a essa questão reside na conceituação do que é “fé”. É senso comum no mundo que crer em Deus e até ofertar frutos do próprio trabalho são demonstrações de fé. Entretanto, o autor de Hebreus diz que a fé não se encerra nisso. Aliás, essa não é a fé bíblica para a salvação do homem. A melhor maneira de descobrirmos o que é a fé (que Caim não tinha) é perguntarmos exatamente ao seu autor e consumador, Jesus Cristo: “Portanto, também nós, uma vez que estamos rodeados por tão grande nuvem de testemunhas, livremo-nos de tudo o que nos atrapalha e do pecado que nos envolve, e corramos com perseverança a corrida que nos é proposta, tendo os olhos fitos em Jesus, autor e consumador da nossa fé. Ele, pela alegria que lhe fora proposta, suportou a cruz, desprezando a vergonha, e assentou-se à direita do trono de Deus” (Hb 12.2).

É notável como a consumação da fé por Jesus Cristo gera um efeito claro: livrar-se de tudo que nos atrapalha e do pecado que nos envolve! E foi exatamente essa a repreensão de Deus a Caim: livrar-se do pecado que jazia à porta e que desejava o envolver.

Caim, por sua vez, negligenciou o pecado apontado por Deus. Em vez de dominá-lo, foi dominado. O restante da história nós conhecemos: Caim convidou seu irmão Abel para ir ao campo e lá o matou.

RESULTADO DO EXAME

Se os testes “A” e “D” não conseguem fazer com precisão a discriminação entre os crentes e os descendentes de Caim, o teste “N” consegue. Viver despreocupadamente no pecado é um traço característico dos incrédulos, entre eles a própria descendência de Caim.

Isso porque a fé genuína provém do arrependimento genuíno. A mensagem de cruz é simples: “Daí em diante Jesus começou a pregar: Arrependam-se, pois o Reino dos céus está próximo" (Mt 4.17). 

Para que a fé genuína nasça é imprescindível reconhecer que somos pecadores, que merecemos a morte por nossos delitos contra Deus e que o próprio Cristo pagou essa dívida de morte eterna: “Mas também para nós, a quem Deus creditará justiça, para nós, que cremos naquele que ressuscitou dos mortos a Jesus, nosso Senhor. Ele foi entregue à morte por nossos pecados e ressuscitado para nossa justificação” (Rm 4.24,25).

As gerações espirituais de Caim, que têm seus corações dominados pelo pecado e rebeldes contra Deus, acompanham a história. Se o autor de Hebreus diz que a fé de Abel ainda fala, embora ele esteja morto, as obras de Caim, embora ele esteja morto, ainda são operadas e causam preocupação aos pastores e líderes de Deus na Terra: “Ai deles! Pois seguiram o caminho de Caim, buscando o lucro, caíram no erro de Balaão e foram destruídos na rebelião de Corá” (Jd 11).

Mas, quais são as obras dos descendentes espirituais de Caim? “Passear pelo campo”. Sim, os descendentes de Caim, estejam no mundo ou dentro das igrejas, em púlpitos ou bancos, sempre convidam os crentes para “passear pelo campo”.

Séculos se passaram desde Caim, mas o “campo” continua sendo o triste final de muitos crentes. Não enxergaram que a inocência do campo e a maldade dos descendentes de Caim é uma combinação ardilosa contra os cristãos genuínos. Convites e mais convites para passear no campo são feitos diariamente aos crentes e, como sabemos, vidas e famílias continuam sendo despedaçadas.

Os crentes devem estar atentos a esses convites. Antes de aceitá-los, deve sempre fazer o “teste do DNA”. Certifique-se de que o seu companheiro que o chama para passear pelo campo é um crente genuíno. E, se forem surpreendidos por alguém, que seja pela gloriosa presença do Senhor Jesus Cristo que aquece os nossos corações, como o que ocorreu no caminho de Emaús: “Depois Jesus apareceu noutra forma a dois deles, estando eles a caminho do campo” (Mc 16.12).

Tanto Jesus Cristo como os descendentes de Caim caminham pelo campo. Você tem aceitado os convites de quem?

Leandro Boer

(*) Nesse ponto, é importante ressaltar que, em hipótese nenhuma, esse texto endossa a heresia da “doutrina da maldição familiar”, pois, como expusemos anteriormente, a descendência de Caim foi completamente destruída pelo juízo divino no dilúvio.

7 comentários:

  1. pala interessante porém a algo que me pertuba, haveria saida para Caim? no teste "n" diz Deus "não seras aceito mesmo fazendo o bem", era Caim predestinado ao Mal ja que o outro texto biblico afirma que ele era de Satã?

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  2. Essa pergunta fez-me recordar o apóstolo Paulo em sua carta aos Romanos sobre esse assunto: Mas algum de vocês me dirá: "Então, por que Deus ainda nos culpa? Pois, quem resiste à sua vontade? (Rm 9.19)
    Uma boa comparação subsiste no exemplo de Judas: O Filho do homem vai, como foi determinado; mas ai daquele que o trai! (Lc 22.22)
    As Escrituras expõem que, assim como Judas, Caim era responsável por seus atos, mas que sua ação também se encontrava sob o decreto divino, como um "vaso feito para desonra" (Rm 9.21). Para a mente humana, esses dois ensinamentos parecem conflitantes, mas não para a mente de Deus. Humildemente, devemos aceitar o decreto divino sobre o destino de Caim e também a coexistência de sua responsabilidade.Dessa forma, a resposta a essa pergunta são 4 perguntas desconcertantes: Mas quem é você, ó homem, para questionar a Deus? "Acaso aquilo que é formado pode dizer ao que o formou: ‘Por que me fizeste assim? O oleiro não tem direito de fazer do mesmo barro um vaso para fins nobres e outro para uso desonroso? E se Deus, querendo mostrar a sua ira e tornar conhecido o seu poder, suportou com grande paciência os vasos de sua ira, preparados para destruição? Que dizer, se ele fez isto para tornar conhecidas as riquezas de sua glória aos vasos de sua misericórdia, que preparou de antemão para glória, ou seja, a nós, a quem também chamou, não apenas dentre os judeus, mas também dentre os gentios? (Rm 9.20-24)

    Leandro Boer

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  3. Fiquei pensando sobre a descendência de Caim ter terminado no dilúvio, visto que Noé era descendente de Sete. Mas e as esposas, tanto de Noé como de seus filhos? Não poderiam continuar a descendência genética de Caim?

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  4. Brito,

    Esse negócio das descendências das esposas é de se pensar, mas a idéia do autor foi a de considerar como "descendentes de Caim" aqueles que "agem como Caim", ou seja, parecem bonzinhos, oferecem suas ofertas, mas "são dominados pelo pecado".

    Um abraço amigão.

    Thomas

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. Sr. Eduardo Nogueira, muito obrigado pelo ponto levantado! Como o Pr. Thomas endossou, ele é factível. O nome técnico-científico do que mencionou se chama "cripto-genética” populacional, ou seja, é a identificação da descendência pela avaliação de locigenético específico de um determinado povo. Geralmente, isso é possível em povos que pouco se miscigenaram através dos tempos, como os hebreus. Daí se tem a possibilidade de identificar os "cripto-judeus". Ou seja, pessoas que apenas descobrem que são de descendência hebraica por avaliação genética. Recentemente, uma pesquisa sobre isso foi feita em Portugal (pesquisa publicada em literatura científica indexada), na região de Trás-os-montes. Como os judeus apagavam sua história por causa da perseguição ao ponto de mudar os sobrenomes e não contarem a história de sua ascendência, muitos portugueses descobriram que eram "cripto-judeus" por causa da avaliação genética. Nessa região, os índices de genética hebraica chegou a 25% da população (cripto-judeus sefárdicos).

    De qualquer forma, o parâmetro para boas estimativas baliza-se em populações "fechadas" e com pouca miscigenação. Ou seja, há grande recorrência de determinados genes nas gerações subsequentes.
    Creio que os descendentes genéticos de Caim, por não estarem debaixo das ordens divinas contra a miscigenação aumentaram a diversidade genética ao ponto de não haver uma característica genética com segmentos do genoma que mantivessem uma identidade genética populacional. Para isso, eles deveriam ter se idolado e não contraído matrimônio com outros povos. Dificilmente isso deve ter ocorrido...

    De qualquer forma, a intenção do texto, como o Pr. Thomas salientou, é expor a "descendência espiritual de Caim". Uma descendência que crê em Deus, reconhece que a "chuva que cai sobre sua lavoura" vem dele, oferta a Deus seus frutos de trabalho, mas acalenta o pecado no coração sem qualquer arrependimento e são perigosos para as vidas dos crentes genuínos.

    Um forte abraço!

    Leandro Boer

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  7. Completando o que o Leandro disse acima, trata-se do "joio no meio do trigo", ou, como disse minha filha certa vez, o "shoyu no meio do trigo". Hehehehehe. Deve dar um bom tempurá.

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