sexta-feira, 5 de novembro de 2010

O Batismo Infantil (Parte 2)

Os argumentos que defendem o batismo infantil, ainda que muito bem elaborados, estão sujeitos a sérios questionamentos. Primeiro: a noção de que a participação dos pais crentes no Novo Pacto autoriza o batismo de seus filhos, da mesma forma que a participação dos pais israelitas no Velho Pacto impunha-lhes o dever de circuncidar seus bebês merece grave objeção. Isso porque o bebê israelita não era circuncidado porque seus pais eram israelitas. Ele era circuncidado porque, sendo filho de judeus, ele próprio era israelita. A causa direta da circuncisão do bebê judeu não estava nos pais, mas no próprio bebê, no fato de ele mesmo ser um judeu. Ora, não é esse o caso dos filhos dos crentes. Estes não nascem crentes, inexistindo neles próprios qualquer razão para que recebam o batismo. De fato, se o filho do israelita nascia israelita e, por isso, era circuncidado, o filho do cristão, por sua vez, não nasce cristão, não havendo razão nenhuma para ser batizado.

Há também grave deficiência no ensino, exposto na primeira parte deste artigo, de que o batismo é um substituto da circuncisão. Na verdade, absolutamente nada na Bíblia corrobora essa concepção. Mesmo o texto de Colossenses 2.11,12 está mui longe de confirmá-la. Aliás, uma simples leitura dessa passagem deixará o leitor surpreso, questionando onde é possível encontrar ali qualquer base para o ensino de que o batismo ocupa hoje o lugar do rito judaico.

A eventual surpresa do leitor será fácil de ser compreendida. Isso porque Colossenses 2.11,12 fala claramente da circuncisão do coração e do batismo do crente na morte de Cristo, ou seja, trata de realidades espirituais e não de ritos externos. Ademais, a passagem aponta essas realidades espirituais como fenômenos distintos e não como se o segundo fosse substituto do primeiro.

Com efeito, em Colossenses 2.11,12, Paulo explica que o crente foi circuncidado por Cristo (Rm 2.28,29). Isso significa, conforme o próprio v.11 esclarece, que sua natureza pecaminosa foi despojada e enfraquecida (Rm 6.6). Em seguida, o apóstolo afirma que esse milagre aconteceu quando o crente foi batizado na morte do Senhor (v.12), isto é, quando, pela fé, ele se uniu ao Salvador, morrendo para o pecado e ressuscitando para uma vida nova (Rm 6.3,4). Assim, Paulo trata nessa passagem de duas realidades ligadas, porém ligeiramente distintas: a participação do crente na morte de Cristo (o que é chamado de batismo) e o amortecimento de sua natureza pecaminosa (a circuncisão do coração) decorrente da participação na morte do Senhor. Esse e somente esse é o ensino claro da passagem, estando mui longe de servir de base para a noção de que o batismo é a versão cristã da circuncisão judaica. Consequentemente, batizar bebês sob tal pretexto é prática carente de fundamento sólido.

Quanto ao argumento construído sobre Romanos 4.11, onde a circuncisão é chamada de “selo da justiça da fé”, este também é facilmente desfeito. Conforme visto, seus proponentes afirmam que a circuncisão, um selo da justiça da fé, devia ser aplicado a bebês sem fé, de modo que, segundo eles, nada pode haver de errado em fazer o mesmo com o batismo, outro selo da justiça da fé. Essa linha de raciocínio, contudo, está equivocada, pois, ao chamar a circuncisão de selo da justiça da fé, Paulo se refere à circuncisão específica de Abraão. Tanto isso é verdade que, se o texto em análise for lido com atenção, fatalmente saltará aos olhos que a circuncisão ali mencionada é vista como um selo da justiça procedente da fé que Abraão teve quando ainda incircunciso.

A circuncisão isoladamente considerada, portanto, não era um selo de fé, mas apenas uma marca distintiva no corpo dos que participavam da Antiga Aliança. Para receber um selo de fé, é preciso ter fé. Foi por isso que quando o eunuco etíope perguntou a Filipe se podia ser batizado, o evangelista respondeu: “É lícito, se crês de todo o coração” (At 8.37).

Desse modo, batizar bebês permanece uma prática sem qualquer base nas Escrituras.  Na verdade, apenas crianças que já compreenderam o evangelho e aceitaram sua mensagem podem ser batizadas. Com efeito, a Bíblia diz que antes de ser batizada a pessoa deve arrepender-se e crer em Cristo (At 2.38,41,42; 8.37). E mais: as Escrituras mostram que o batismo é um símbolo de nossa morte para o pecado e ressurreição para uma nova vida (Rm 6.4,11). Por isso, somente podem participar do símbolo os que já participaram da realidade que ele representa.

Pr. Marcos Granconato
Soli Deo gloria

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