sábado, 27 de novembro de 2010

O Papel do Arrependimento dos Pecados

Há alguns anos, acompanhei o caso de um irmão que, apesar de sempre ter sido dedicado e ativo na igreja, vinha paulatinamente se afastando tanto dos cultos como do convívio dos irmãos e da própria família. O motivo era o desejo de pegar um grande diamante em um garimpo que mantinha com muito esforço. O ano não tinha sido bom e já chegava a época das chuvas, o que poderia deixá-lo com um grande prejuízo. Por esse motivo, ele praticamente abandonou a igreja. Eu o alertei várias vezes sobre o risco de um crente se manter longe da comunhão dos salvos e do alimento da Palavra de Deus, mas nada mudava a atitude desse irmão.

Entretanto, para minha surpresa e alegria, certo dia ele me procurou e disse que não estava agindo bem e que estava arrependido. Com toda convicção, afirmou que, ainda que terminasse o ano acumulando prejuízos, não iria mais deixar os valores espirituais em segundo plano. Foi um arrependimento verdadeiro e uma grande mudança de rumo. Como uma surpresa adicional, na última semana antes do início das chuvas – que impossibilitam o trabalho de garimpo – esse irmão encontrou um poço no fundo de um rio onde pegou diamantes suficientes para pagar as despesas do ano todo, para financiar o início do trabalho no próximo ano e para contabilizar um bom lucro. Foi incrível como a tristeza e a preocupação se transformaram em alegria, não, contudo, sem passar antes pelo arrependimento.

Davi viveu essa dinâmica mais de uma vez. Uma delas está registrada no Salmo 6, o primeiro dos sete “salmos penitenciais” (6, 32, 38, 51, 102, 130, 143). O salmista experimentava um momento muito complicado em que sua própria vida estava em risco. Ele suplica a Deus que o livre e o salve (v.4) explicando, no v.5, que “não há, na morte, recordação de ti” (’ên bammawet zikreka). Davi não está, obviamente, ensinando que não há vida após a morte. Ele está clamando ao Senhor que o salve e oferece como razão, para tanto, a ideia de que empregará sua vida poupada para recordar do Senhor e da sua boa ação para com ele. Ele completa essa ideia dizendo “quem, na sepultura, o louvará?” (bishôl mi yôdeh-lak).

Esse compromisso e desejo de louvar o Senhor, caso seja poupado, ocorre em um momento em que o salmista não apenas corre risco de vida, mas se sente abalado pelas circunstâncias. Ele diz “estou desfalecido no meu lamento” (yaga‘tî be’anhatî). Imagine alguém lamentar tanto um sofrimento a ponto de se sentir cansado. Essa era a realidade de Davi. Ele chorava a ponto de se sentir exausto. Esse pranto tomava horas da sua noite. “Toda noite minha cama fica cheia das minhas lágrimas; meu leito se desfaz” (bekal-laylâ mittatî bedim‘atî ‘arsî ’amseh), diz ele no v.6. Esse pranto tem uma causa (v.8): “todos aqueles que me são hostis” (bekal-tsôreray).

Perante situação tão triste, mesmo aterradora, Davi considera a possibilidade de se tratar de uma disciplina de Deus. Assim, o busca a fim de pedir pela sua misericórdia. Apesar de não ficar explícito o pecado e a confissão de Davi, a semelhança desse salmo com os outros nos quais Davi pede perdão, demonstra que ele está, sim, clamando pela misericórdia de Deus em meio ao arrependimento (basta comparar o v.1 com Salmo 38.1,4 e o v.2 com Salmo 32.3, 38,3 e 41.4).

Assim, Davi clama ao Senhor (v.1), não que não o repreenda, mas diz: “Não me repreenda na tua ira” ou “repreende-me não na tua ira” (’al-be’appeka tôkîhenî). O salmista sabe do poder de Deus e entende que o Senhor pode the trazer um castigo maior do que ele possa suportar. Jeremias parece ter a mesma visão ao dizer: “castiga-me, ó Senhor, mas em justa medida, não na tua ira, para que não me reduzas a nada” (Jr 10.24). Como uma oração complementar, Davi pede: “E não me discipline na tua irritação” (we’al-bahamatka teyasserenî). É bem possível que Davi merecesse tal punição. Por isso, o foco do pedido do salmista (v.2) é “seja favorável a mim, Senhor” ou “use de misericórdia para comigo, ó Senhor” (hannenî yehwâ).

Do choro Davi passa para o arrependimento. Entretanto, não para nele. Algo maravilhoso acontece nessa jornada. O pranto se transforma em alegria mediante o pedido de perdão, não porque o salmista passe a ver a situação com outros olhos, mas simplesmente porque o Senhor de fato o perdoou e agiu de acordo com essa realidade. Assim, Davi se vê livre das mãos dos inimigos (v.8) exatamente porque “o Senhor ouviu a voz do meu lamento” (shama‘ yehwâ qôl bikyî), explica ele. Sua trajetória foi “do choro ao arrependimento e do arrependimento à alegria”. O pecado realmente causa inúmeras tristezas, seja em termos de consequências, seja na óbvia tristeza pela perda de comunhão com o Senhor. O perdão de Deus encontra o cristão, nesse sentido, como um bálsamo sobre uma ferida: traz alívio e cura.

Conheço muita gente que passou do choro à alegria por meio do arrependimento – eu inclusive. Nem sempre a alegria vem por meio da prosperidade ou da solução completa do problema, mas sempre há alívio da consciência culpada e restauração da comunhão com Deus e com o corpo de Cristo, a igreja. E, pensando bem, ao refletir sobre a graça, a bondade e o amor de Deus por nós – verdadeiras riquezas – o que são diamantes?

Pr. Thomas Tronco

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

A Ceia do Senhor (Parte 1)

A afirmação “isto é o meu corpo”, feita por Jesus pouco antes da sua paixão (Mt 26.26) é uma das frases que mais têm originado debates ao longo da história da igreja. Na época da Reforma Protestante, a falta de acordo acerca do seu real significado foi a causa do rompimento das relações entre Lutero e Zuínglio, após o malfadado Colóquio de Marburgo (1529) e ainda hoje o meio cristão permanece dividido acerca do modo como a Ceia do Senhor deve ser entendida, tanto no tocante à sua natureza como no que diz respeito aos efeitos que produz sobre os que participam dela.

Num dos extremos da discussão estão os que entendem a frase de Jesus de modo figurado, dizendo que se trata apenas de uma metáfora, como se o Mestre tivesse dito simplesmente “Isto representa o meu corpo”. No outro extremo do debate, há intérpretes que propõem uma visão absolutamente literal, ensinando que os elementos da Ceia são, de fato, o corpo e o sangue reais de Cristo, num sentido que encerra a sua mais completa essência. Entre esses dois polos há interpretações intermediárias, propostas por teólogos que tentam compor uma opinião mais equilibrada, fazendo uso de argumentos usados pelos dois extremos.

Basicamente, quatro são as concepções acerca da Ceia do Senhor dominantes do meio cristão: transubstanciação, consubstanciação, presença espiritual e memorial. Cada uma dessas propostas será brevemente apresentada a seguir.

A doutrina da transubstanciação é esposada pela Igreja Católica Apostólica Romana, sendo um dos temas centrais de sua teologia e prática litúrgica. De acordo com essa visão, a ceia deve ser ministrada ao povo num só elemento, a hóstia, nome dado a um pequeno pão sem fermento, de formato arredondado. Esse elemento, dizem, após ser consagrado pelo sacerdote ministrante, passa por uma transformação em sua substância (daí o termo transubstanciação), tornando-se, literalmente, carne, sangue, ossos, unhas e cabelos de Cristo. Os católicos entendem que essa transformação não é visível porque ocorre apenas na substância do pão e não nos seus acidentes. Assim, conforme entendem, o elemento eucarístico, ainda que apresente em sua forma e aparência os atributos do pão, é, na verdade, em sua essência, carne humana!

Uma das implicações da doutrina da transubstanciação é que sempre que a eucaristia é celebrada no culto católico (e isso acontece em todas as missas), o sacrifício de Cristo se repete. Portanto, se três missas forem realizadas num só domingo numa mesma catedral, naquele dia o sacrifício de Cristo se repetirá ali três vezes, o mesmo ocorrendo em outras igrejas romanistas ao redor do mundo. É essa suposta repetição contínua do sacrifício do Senhor que dá o motivo pelo qual as igrejas católicas celebram sua ceia num altar e não numa mesa como fazem as igrejas evangélicas.

A doutrina da transubstanciação também explica porque os padres, pelo menos há alguns anos, orientavam os fiéis a não morder a hóstia, mas sim deixá-la dissolver-se na boca. Essa era uma forma de tentar infundir nas pessoas ignorantes um entendimento maior acerca do suposto mistério presente no “corpo eucarístico de Cristo”. Essa doutrina é ainda o fundamento pelo qual os sacerdotes católicos tendem a fazer o “sepultamento” de hóstias consagradas que sobraram após encerrada a missa. No seu entender, jogá-las fora seria sacrilégio cometido contra o próprio corpo de Cristo e armazená-las não seria o modo digno de lidar com um cadáver tão santo.

Os católicos acreditam que é somente graças ao milagre da transubstanciação que o homem pode efetivamente conhecer Cristo como o pão da vida e se alimentar dele para viver eternamente (Jo 6.48-58). Segundo eles, comer a hóstia consagrada ajudará o fiel a conquistar a salvação, sendo imensos os benefícios espirituais que emanam da eucaristia.

Evidentemente, não há como sustentar essa concepção da ceia, nem lógica nem tampouco biblicamente. Primeiro porque não faz sentido propor a hipótese de uma mudança de substância sem uma consequente alteração nos acidentes, pois os acidentes de determinada substância pertencem necessariamente a ela. Assim, não há como um pedaço de pão deixar de ser pão e continuar com as células do pão. Negar isso seria contrariar as mais elementares noções de lógica.

O absurdo dessa concepção também é percebido quando se leva em conta a própria história da instituição da ceia. Ora, é óbvio que, quando o Senhor disse “isto é o meu corpo”, não estava segurando um pedaço dele próprio. Com efeito, naquele momento o pão estava nas mãos de Jesus, não era uma extensão de seus dedos.

A doutrina da transubstanciação, com todos os seus desdobramentos, também não leva em conta ensinos fundamentais da Palavra de Deus. As Escrituras ensinam que o sacrifício de Cristo ocorreu uma vez por todas, não havendo necessidade de que se repita (Rm 6.9-10; Hb 7.27; 9.12, 26, 28; 10.10; 1Pe 3.18).

Ademais, quando o Senhor afirmou ser o pão da vida, sendo necessário comer o seu corpo e beber o seu sangue para ser salvo (Jo 6.48-58), não pretendia com isso ensinar algum tipo de antropofagia, como entenderam seus ouvintes naquela ocasião (Jo 6.52). O que Jesus quis ensinar no discurso registrado em João 6 deve ser entendido à luz do versículo 35. Esse versículo revela a que Jesus se referiu quando fez alusão aos atos de comer sua carne e beber seu sangue. De fato, João 6.35 apresenta Jesus como o Pão da Vida, destacando que quem vai a ele se alimenta, e quem crê nele mata a sede. Logo, comer a carne de Cristo é buscá-lo; enquanto beber seu sangue é crer nele. Alimenta-se, pois, do Senhor, o indivíduo que o busca e deposita nele sua confiança para ser salvo. Este faz de Cristo sua comida e sua bebida, jamais tendo fome ou sede outra vez.

(Continua na semana que vem)

Pr. Marcos Granconato
Soli Deo gloria

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

A Atitude Correta Diante da Oração

Uma boa maneira de conhecer um cristão é observar sua oração. Por ser uma exteriorização do que há no íntimo, quando vemos alguém orar conhecemos um pouco do que há onde somente Deus pode ver.

Assim, se uma pessoa nunca toma a iniciativa de orar diante de dificuldades e até mesmo de tarefas corriqueiras ou se, a pedido de alguém, ora mecanicamente, percebe-se não se tratar de alguém muito dado a buscar o Senhor, seja em oração, seja pela leitura das Escrituras, seja pela meditação e contrição pessoal. Se alguém ora reivindicando bênçãos ou rejeitando dificuldades, tal pessoa tem dificuldades em se submeter à vontade e às orientações de Deus e costuma criar seu próprio modo de segui-lo. Se alguém tem por hábito orar antes de cada coisa que vai fazer, mesmo que sejam em momentos corriqueiros, surge diante dos olhos uma pessoa que entende que Deus é soberano e que sabe que os cristãos são inteiramente dependentes dele.

Nesse aspecto, há um tipo de pessoa que me intriga. É aquele que ora a Deus pedindo que cuide de certa situação, que faça sua boa vontade e que seja presente em cada detalhe. Contudo, apesar da correta oração, passa imediatamente a atuar como se não tivesse orado e como se Deus nada fosse fazer no sentido de atender a oração. A pessoa pede ajuda de Deus e, em um instante, nega a ajuda que pediu tomando a frente, ela mesma, da solução dos problemas.

Sob esse aspecto, Davi dá um bom exemplo para os discípulos do Senhor. Basta notar as condições do seu dia a dia expressas no Salmo 5. Ele enaltece, diante de Deus, os justos (v.12) e os que confiam e amam o Senhor (v.11), justamente porque eram as pessoas que ele tinha em menor número ao seu lado. É provável que os vv.4-6 demonstrem as características das pessoas que causavam problemas e riscos para o rei de Israel. São pessoas iníquas (v.4), arrogantes (v.5), enganadoras e violentas (v.6). Gente assim causa sofrimento a todos quantos estão ao seu redor.

Sabendo da presença e do risco que os inimigos representavam, Davi fez o correto: buscou a Deus em oração. Entretanto, dizer isso é tratar o assunto vagamente, visto que, em oração, podem-se fazer e falar muitas coisas, inclusive contraditórias. Temos visto, por exemplo, pessoas que oram repreendendo os males como se neles mesmos estivesse o poder para tanto; pessoas que ordenam bênçãos espirituais como se Deus fosse seu servo pessoal; pessoas que dizem para Deus que não aceitam algum mal que os acometa; e pessoas que, por incrível que pareça, oram perdoando o Senhor por ter-lhes infligido alguma provação.

Davi não orou assim, mesmo que estivesse preocupado com a violência e a maldade dos seus inimigos. Na verdade, ele teve três atitudes necessárias à oração baseada no ensino bíblico. Em primeiro lugar, ele clama a Deus por ajuda (v.1). O rei de Israel não repreendeu o problema, nem colocou Deus na parede, nem tampouco perdoou o Senhor por permitir a presença de inimigos. Davi, simplesmente, foi a Deus e fez uma petição pela solução do sofrimento. Com o coração compungido, ele diz “ouça as minhas palavras, ó Senhor, considera o meu gemido” (’amaray ha’azînâ yehwâ bînâ hagîgî). É como se dissesse: “Senhor, veja como estou sofrendo e me ajude”.

Em segundo lugar, Davi sabe seu lugar diante de Deus (v.2). Ele, o rei de Israel, se dirige ao Senhor e o chama de “Rei”. Na verdade, Davi diz “meu Rei e meu Deus” (malkî we’lohay). Ele não se sente apenas como o grande rei cheio de súditos, mas sabe que também é um súdito – súdito de Deus. O orgulho que costuma, infelizmente, acompanhar um cargo como o seu, não nubla a visão de que há alguém que reina sobre ele. Isso faz com que ele não busque seus direitos ou seus próprios recursos na solução do sofrimento. Ele, antes, busca o Rei exatamente com a mesma humildade e dependência que os seus súditos o buscavam.

Finalmente, em terceiro lugar, ele espera pela atuação de Deus (v.3). Depois de orar a Deus, Davi conclui com uma observação no mínimo intrigante. Quando a primeira reação que imaginamos que alguém em problemas teria, a saber, iniciar rapidamente algumas ações no sentido de dar fim ao mal, o rei de Israel leva em conta que expôs sua angústia ao Deus Todo-Poderoso e confia na sua sábia resposta. Depois de abrir seu coração a Deus, Davi diz: “E eu aguardo” (wa’atsapeh). Uma outra tradução possível seria “e fico observando”. Na verdade, essa palavra demonstra que Davi confiava tanto no poder, na sabedoria e no amor de Deus que, depois de orar, ele, realmente esperava pela resposta, qualquer que fosse. Isso não significa deixar de fazer o que é de sua responsabilidade, mas deixar de fazer o que não é, além de se abster de atitudes erradas por uma “boa causa”. Apesar de ser rei, Davi esperava como um servo que seu Senhor – e nosso – agisse.

Que exemplo a ser seguido por todos nós! Afinal, homens iníquos, arrogantes, enganadores e violentos cercam quase todos os cristãos. Que esse seja o incentivo e o exemplo para deixarmos de tomar caminhos tortuosos a fim de fazer o que é da alçada do Deus eterno e nos dediquemos, cada vez mais, à oração! Mas não uma oração qualquer. A oração e as atitudes dignas daquilo que Deus nos ensinou nas Escrituras.

Pr. Thomas Tronco

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Igrejas Pós-Modernas (Parte 2)

O terceiro traço das igrejas pós-modernas, o afrouxamento ético/moral, é consequência lógica tanto da hermenêutica subjetiva como do discurso conciliador. Com efeito, atribuindo à Bíblia uma variedade ilimitada de sentidos, o cristão pós-moderno, em situações que exigem a tomada de decisões no campo moral, fatalmente escolherá a interpretação mais cômoda, que melhor se ajuste aos seus interesses pessoais. Ademais, adotando um discurso conciliador embasado na crença de que a verdade não é única, o novo cristão aplicará essa forma de pensar também às questões éticas, dizendo que não se podem condenar as opções de comportamento de ninguém.

Unindo isso tudo, o resultado é previsível e óbvio: as igrejas pós-modernas, invariavelmente, revelam posicionamentos muito frouxos em relação a temas como namoro misto, sexo fora do casamento, divórcio, homossexualismo, envolvimento do cristão com o mundo e uso de álcool, cigarro ou mesmo drogas. Em decorrência dessa frouxidão, os membros das igrejas pós-modernas que adotam posturas claramente antibíblicas acerca dos temas mencionados ou de outros assuntos ligados à ética cristã não recebem qualquer correção. Na verdade, nada diferente poderia ser esperado, pois, como já dito, na visão pós-moderna, dizer o que é errado é errado!

Cabe aqui uma observação importante: o fato de as igrejas pós-modernas apresentarem tão nítida frouxidão ético/moral talvez seja a causa do seu espantoso crescimento. Multidões lotam seus salões na busca não de correção, mas de qualquer discurso que gere conforto e bem-estar, longe do incômodo produzido pela pregação da pura Palavra de Deus, capaz de ferir as consciências e infundir arrependimento. É que, conforme disse o profeta Jeremias, “a palavra do Senhor é para eles desprezível, não encontram nela motivo de prazer” (Jr 6.10). Além disso, sabe-se que é próprio da natureza humana corrupta cercar-se de mestres que não se opõem às suas paixões (2Tm 4:3).

O último traço do evangelicalismo pós-moderno é a ênfase excessiva dada à liberdade humana. Nesse modelo, o crente não é apenas livre para interpretar a Bíblia como quiser e, consequentemente, adotar o modelo ético que quiser. Sua liberdade vai além. Mais do que ser dono de suas verdades e dos seus caminhos, o cristão pós-moderno considera-se também dono do seu destino!

Ocorre o seguinte: a mente pós-moderna tem dificuldades para aceitar a presciência de Deus ensinada na Bíblia (Is 46.8-10; Jo 21.18-19), pois, se Deus conhece de antemão o amanhã, então, o futuro é fixo e o homem, no fim das contas, não é livre. Esse dilema é real para qualquer cristão, estando sua solução escondida na mente insondável de Deus, verdade que deve ser suficiente para aquietar qualquer questionamento (Rm 9.19-20). Diante dessa dificuldade, porém, o crente pós-moderno não passa apertos. No afã de resguardar o ser humano, resolve tudo dizendo simplesmente que Deus não conhece o futuro, estando o porvir aberto à influência do homem que pode escrevê-lo a partir do livre exercício de sua vontade. Essa concepção de Deus e suas relações com o mundo é uma das características do modelo teológico denominado Teísmo Aberto.

Percebe-se assim, que a hipervalorização da vontade livre do indivíduo é a mola mestra do pensamento cristão pós-moderno. Conforme visto, a partir de suas concepções, o crente é livre para atribuir às Escrituras o sentido que quiser; é livre para construir a ética que quiser e é livre para dirigir a história como quiser. Trata-se do império do indivíduo cuja abrangência chega ao ponto de destronar o próprio Deus a fim de preservar a supremacia da liberdade humana.

No fim das contas, o impacto mais desastroso dessa mentalidade sobre a Sã Doutrina é a criação de um deus impotente e ignorante, que lamenta as desventuras da raça humana, mas que pouco pode fazer, já que a administração da história depende também do homem e qualquer interferência divina soberana implicaria imposição de vontade, tornando Deus culpado por não agir de modo “policamente correto”.  Não restam dúvidas, pois, de que o deus do cristianismo pós-moderno não é o Deus das Escrituras. Trata-se de outro deus, com tremendas limitações. É lamentável, mas o que se deduz da análise desses conceitos é que criou, pois, o Homem um deus à sua própria imagem, à imagem do Homem o criou...  

Pr. Marcos Granconato
Soli Deo gloria

O Exercício Físico é de ‘Pouco Proveito’?

O exercício físico é de pouco proveito; a piedade, porém, para tudo é proveitosa, porque tem promessa da vida presente e da futura (1Tm 4.8).

Se andar fizesse bem à saúde, os carteiros seriam imortais”. Escutei essa frase humorística em um hospital quando um colega tentava persuadir seu paciente, durante uma consulta médica, a se dedicar a uma rotina de exercícios físicos.

Os exercícios físicos são, inegavelmente, benéficos à saúde e à manutenção de um envelhecimento com menor risco de complicações. A maior causa de mortalidade no mundo ainda é a doença cardiovascular. E, especialmente em relação a ela, a alimentação saudável e exercícios físicos adequados à faixa etária e limitações físicas são fundamentais para retardar os seus surgimentos.

Todavia, qual é a quantidade ideal de exercícios físicos a que meu colega se referia ao orientar o seu paciente? Qual é a quantidade mínima de exercícios físicos que um ser humano adulto, independentemente do sexo, deve praticar para que tenha benefícios, tais como o controle do sobrepeso, obesidade, hipertensão (pressão alta), dislipidemia (colesterol alterado), diabetes tipo 2 e doença arterial coronariana (entupimento das artérias coronárias que podem causar infarto do coração)?

É ponto comum que o controle dos fatores supracitados e o retardamento dos seus surgimentos aumentam não só a expectativa de vida, mas a qualidade de vida [1]. Profissionais da área de saúde devem auxiliar na prescrição de exercícios físicos, principalmente se o caso é de sedentarismo há algum tempo.

Os estudos clínicos demonstraram que a rotina de atividade física de moderada intensidade (atividade em que a frequência cardíaca permanece entre 70% e 80% da frequência cardíaca máxima ou de pico) com duração de trinta minutos, cinco vezes na semana, de forma contínua ou acumulada (que pode ser feita de uma só vez ou dividida no dia, como dois períodos de quinze minutos ou três períodos de dez minutos) é benéfica no combate a todos os problemas de saúde anteriormente listados [1].

Para as pessoas que não querem se debruçar sobre contas matemáticas, o exercício físico de “moderada intensidade” é aquele da “caminhada ligeira”. Ou seja, aquela caminhada de alguém que está com pressa para chegar a algum lugar, como se estivesse atrasado para um compromisso. Para aqueles que gostam de calcular exatamente como deve ser o exercício, segue uma das fórmulas utilizadas para a prescrição de exercícios:

Valor mínimo da frequência cardíaca durante o exercício: (220 – sua idade) x 0,7.
Valor máximo da frequência cardíaca durante o exercício: (220 – sua idade) x 0,8.

Em linhas gerais, esses dois cálculos nos dão o intervalo em que a frequência cardíaca deve permanecer durante o exercício. Se a sua atividade física estiver abaixo do valor mínimo, o exercício não está atingindo a intensidade desejada. Se o valor de sua frequência cardíaca estiver acima do valor máximo, o exercício está mais intenso do que o tolerado e o estado de fadiga rapidamente surge. A utilização de relógios com frequencímetros pode ajudar a manter a atividade física na faixa indicada.

Logo, percebemos que não é preciso muito tempo para promoção da boa saúde por meio dos exercícios físicos. Considerando o período de uma semana, os exercícios físicos que os médicos orientam seus pacientes a se dedicar compreendem apenas 1,5% de todo o tempo da semana.

Entretanto, o exercício físico se encaixaria na máxima “quanto mais, melhor”? Parece que o relativismo dos tempos pós-modernos tem suas exceções. Uma delas é a percepção de que os padrões de beleza dos profissionais que dependem de sua aparência devem ser imitados por todos os outros “mortais” que não têm tempo e dinheiro para investir na obtenção do “corpo perfeito”. Ademais, corpos esbeltos e surpreendentemente delineados apenas são sinônimos de eternidade entre as divindades gregas, ou seja, na mitologia grega. Enfim, um mito! Veja, abaixo, os resultados de algumas evidências científicas e note como há um limite para obsessão por exercícios físicos.

Um estudo polonês se propôs a avaliar uma interessante variável: a longevidade comparativa entre atletas olímpicos, atores e atrizes, e monges e freiras poloneses [2]. Os dados de mortalidade, coletados entre 1946 e 2000, de 7.576 poloneses de ambos os sexos, foram avaliados. Todas as pessoas gozaram uma juventude saudável, mas optaram por diferentes profissões com intensidade e duração de atividade física distintas. É curioso notar a inclusão de atores e atrizes que normalmente praticam exercícios físicos não para fins esportivos, mas para fins de manutenção da saúde e estética. A análise estatística demonstrou que, entre os homens, os atletas obtiveram maior longevidade (mediana de 80,4 anos) que os atores (mediana de 73,3 anos). Já entre as mulheres, as curvas das três profissões se mostraram muito próximas e não houve diferença estatística significativa. Os resultados (em média e desvio-padrão) foram sumarizados na tabela abaixo:

HOMENS
MULHERES
Atletas
77,7 (0,7)
Atletas
79,1 (1,6)
Atores
72,3 (0,4)
Atrizes
78,3 (0,5)
Monges
74,8 (0,8)
Freiras
79,4 (1,0)

Uma ótima revisão sobre a mortalidade e longevidade de atletas de elite foi publicada recentemente, em 2010 [3]. Nessa revisão, diversos estudos epidemiológicos das mais diversas modalidades esportivas foram analisados conjuntamente e os resultados demonstraram que os atletas de elite vivem um pouco mais que a população geral. Todavia, essa diferença é bastante variável e, em algumas modalidades esportivas, como os jogadores italianos de futebol profissional, não existe diferença alguma na longevidade em relação à população geral. As diferenças na longevidade foram sumarizadas na tabela abaixo:

MODALIDADE ESPORTIVA
INCREMENTO NA LONGEVIDADE (EM ANOS) EM RELAÇÃO À POPULAÇÃO GERAL
Corredores de longa distância ou esquiadores cross-country
2,8 – 5,7 anos
Futebol, hóquei, basquete, saltadores, corredores de curtas ou médias distâncias, corredores com barreira
4,0 anos
Futebol americano ou Rugby
6,1 anos

Até mesmo a hipótese de que os esportes com mais contato (classificados pelos leigos como “violentos”), como o boxe, detinham piores índices de longevidade foi estudada [4]. Os autores cogitavam que boxeadores poderiam viver menos que outros atletas de modalidades com menos ou ausente contato, como a natação e o tênis. Os autores concluíram que o tipo de esporte e sua quantidade de contato com o adversário não influíram na longevidade dos atletas. Embora a maior diferença de longevidade tenha sido encontrada entre boxeadores (73 anos) e tenistas (79 anos), essa diferença não foi estatisticamente significativa.

Se a expressão “quanto mais, melhor” não se harmoniza perfeitamente à prática de exercícios físicos em relação à longevidade, poderia ser o esporte, então, um instrumento para alcançar honra e glória?

Vejamos a opinião dos antigos gregos, detentores da “patente” dos Jogos Olímpicos: os jogos transcendiam o desempenho físico e estavam intimamente relacionados à religião, especialmente ao culto de Zeus. Logo, os vencedores das provas eram admirados em uma atmosfera religiosa com mais significado e glória que uma simples competição esportiva. Todavia, até mesmo nesse contexto, os nomes dos atletas foram esquecidos e a fama e glória se esvaíram antes mesmo que suas vidas chegassem ao fim.

Atualmente, não é diferente: fama e glória se perdem como areia entre os dedos dos atletas. Para exemplificarmos quão fugaz é a glória que o esporte traz, notemos os recordes de atletismo dos últimos Jogos Olímpicos, em Pequim (2008): dezessete recordes foram quebrados nesses jogos, dez entre os homens e sete entre as mulheres. O recorde mais antigo entre os homens é do americano Bob Beamon, no salto em distância, em 1968, nos Jogos Olímpicos do México. Entre as mulheres, o recorde mais antigo pertence à Nadezhda Oligarenko, da ex-União Soviética, na prova dos oitocentos metros, em 1980, em Moscou.

Se mesmo entre esses antigos recordes, a glória e fama não perduram, o que podemos dizer daqueles que já tiveram seus recordes quebrados? O que dizer daqueles que subiram ao pódio, mas não quebraram recordes? O que dizer daqueles que apenas conseguiram participar dos jogos e não alcançaram qualquer medalha? E quanto àqueles que investiram toda a sua juventude e sequer alcançaram expressão no âmbito nacional?

Invariavelmente, se o esporte for usado primariamente para alcançar honra e glória, a frustração é o que o homem pode esperar. Não devem ser raros os casos de depressão após os Jogos Olímpicos, até mesmo entre aqueles que obtiveram bons resultados.

O apóstolo Paulo, movido pelo Espírito Santo, contrapôs a efemeridade da atividade física (do grego gumnasia) à piedade (do grego eusebeia). A palavra gumnasia aparece apenas uma única vez no Novo Testamento (1Tm 4.8) e Paulo, realmente, discorre sobre a limitada importância que o exercício físico detém na vida humana.

Pelas palavras de Paulo, seria leviano dizer que o apóstolo não reconhece a importância da atividade física. Afinal, Paulo não diz que não há qualquer proveito na atividade física, mas que há “pouco” (do grego oligos). Enfim, Paulo apenas requalifica a importância que os exercícios físicos devem ter na vida dos cristãos. Afinal, como pudemos perceber pelas explicações dispostas neste artigo, os exercícios físicos são de pouco proveito para estenderem a longevidade, fama e glória sobremaneira.

O apóstolo Paulo explica, sucintamente, a piedade a que se refere nesse versículo: “Não há duvida de que é grande o mistério da piedade: Deus foi manifestado em corpo, justificado no Espírito, visto pelos anjos, pregado entre as nações, crido no mundo, recebido na glória” (1Tm 3.16).

Logo, o conceito de piedade tem seu sentido completo apenas entre os cristãos, pois toda a sequência acima é o fundamento do plano divino para salvação da humanidade pelo sacrifício vicário de Jesus Cristo. Um homem piedoso é aquele que crê nessa mensagem e se regozija nela.

Tão logo um ser humano se arrepende de seus pecados e crê em Cristo, deve ser exercitado na piedade que é, basicamente, viver como Cristo viveria: “Fui crucificado com Cristo. Assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. A vida que agora vivo no corpo, vivo-a pela fé no filho de Deus, que me amou e se entregou por mim” (Gl 2.20).

O excelente exercício da piedade tem peso de glória eterna! É por essa razão que Paulo enfatiza que é uma promessa para a vida presente e para a futura. A vida presente está vinculada a essa promessa de vida eterna, pois se fundamenta na esperança do término da obra redentora de Cristo em nossas vidas, inclusive de nosso corpo corruptível que não consegue manter-se vivo por mais que façamos exercícios físicos: “Estou convencido de que aquele que começou boa obra em vocês vai completá-la até o dia de Cristo Jesus” (Fp 1.6).

Alguns anos a mais na expectativa de vida e efêmera honra e glória podem ser esperados dos esportes e de uma vida de intenso treinamento físico. Todavia, só a piedade (no sentido bíblico) pode nos proporcionar a vida e glória eternas! Como alcançá-la? Receba, pela fé, a Cristo, cuja verdade conduz a Deus e à vida piedosa: “Paulo, servo de Deus e apóstolo de Jesus Cristo para levar os eleitos de Deus à fé e ao conhecimento da verdade que conduz à piedade; fé e conhecimento que se fundamentam na esperança da vida eterna, a qual o Deus que não mente prometeu antes dos tempos eternos” (Tt 1.1,2).


Leandro Boer


Referências bibliográficas:

1. Sociedade Brasileira de Cardiologia/Sociedade Brasileira de Hipertensão/Sociedade Brasileira de Nefrologia. VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão. Arq Bras Cardiol 2010;95(1 Supl. 1):1-51.

2. Gajewski AK, Poznańska A. Mortality of top athletes, actors and clergy in Poland: 1924-2000 follow-up study of the long term effect of physical activity.Eur J Epidemiol. 2008;23(5):335-40.

3. Teramoto M, Bungum TJ. Mortality and longevity of elite athletes. J Sci Med Sport. 2010 Jul;13(4):410-6.

4. Bianco M, Fabbricatore C, Sanna N, Fabiano C, Palmieri V, Zeppilli P. Elite athletes: is survival shortened in boxers? Int J Sports Med. 2007 Aug;28(8):697-702.

Universidade Mackenzie: Em Defesa da Liberdade de Expressão Religiosa

A Universidade Presbiteriana Mackenzie vem recebendo ataques e críticas por um texto alegadamente “homofóbico” veiculado em seu site desde 2007. Nós, de várias denominações cristãs, vimos prestar solidariedade à instituição. Nós nos levantamos contra o uso indiscriminado do termo “homofobia”, que pretende aplicar-se tanto a assassinos, agressores e discriminadores de homossexuais quanto a líderes religiosos cristãos que, à luz da Escritura Sagrada, consideram a homossexualidade um pecado. Ora, nossa liberdade de consciência e de expressão não nos pode ser negada, nem confundida com violência. Consideramos que mencionar pecados para chamar os homens a um arrependimento voluntário é parte integrante do anúncio do Evangelho de Jesus Cristo. Nenhum discurso de ódio pode se calcar na pregação do amor e da graça de Deus.

Como cristãos, temos o mandato bíblico de oferecer o Evangelho da salvação a todas as pessoas. Jesus Cristo morreu para salvar e reconciliar o ser humano com Deus. Cremos, de acordo com as Escrituras, que “todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Romanos 3.23). Somos pecadores, todos nós. Não existe uma divisão entre “pecadores” e “não-pecadores”. A Bíblia apresenta longas listas de pecado e informa que sem o perdão de Deus o homem está perdido e condenado. Sabemos que são pecado: “prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçaria, inimizades, contendas, rivalidades, iras, pelejas, dissensões, heresias, invejas, homicídios, bebedices, glutonarias” (Gálatas 5.19). Em sua interpretação tradicional e histórica, as Escrituras judaico-cristãs tratam da conduta homossexual como um pecado, como demonstram os textos de Levítico 18.22, 1Coríntios 6.9-10, Romanos 1.18-32, entre outros. Se queremos o arrependimento e a conversão do perdido, precisamos nomear também esse pecado. Não desejamos mudança de comportamento por força de lei, mas sim, a conversão do coração. E a conversão do coração não passa por pressão externa, mas pela ação graciosa e persuasiva do Espírito Santo de Deus, que, como ensinou o Senhor Jesus Cristo, convence “do pecado, da justiça e do juízo” (João 16.8).

Queremos assim nos certificar de que a eventual aprovação de leis chamadas anti-homofobia não nos impedirá de estender esse convite livremente a todos, um convite que também pode ser recusado. Não somos a favor de nenhum tipo de lei que proíba a conduta homossexual; da mesma forma, somos contrários a qualquer lei que atente contra um princípio caro à sociedade brasileira: a liberdade de consciência. A Constituição Federal (artigo 5º) assegura que “todos são iguais perante a lei”, “estipula ser inviolável a liberdade de consciência e de crença” e “estipula que ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política”. Também nos opomos a qualquer força exterior – intimidação, ameaças, agressões verbais e físicas – que vise à mudança de mentalidades. Não aceitamos que a criminalização da opinião seja um instrumento válido para transformações sociais, pois, além de inconstitucional, fomenta uma indesejável onda de autoritarismo, ferindo as bases da democracia. Assim como não buscamos reprimir a conduta homossexual por esses meios coercivos, não queremos que os mesmos meios sejam utilizados para que deixemos de pregar o que cremos. Queremos manter nossa liberdade de anunciar o arrependimento e o perdão de Deus publicamente. Queremos sustentar nosso direito de abrir instituições de ensino confessionais, que reflitam a cosmovisão cristã. Queremos garantir que a comunidade religiosa possa exprimir-se sobre todos os assuntos importantes para a sociedade.

Manifestamos, portanto, nosso total apoio ao pronunciamento da Igreja Presbiteriana do Brasil publicado no ano de 2007 [http://www.ipb.org.br/noticias/noticia_inteligente.php3?id=808] e reproduzido parcialmente, também em 2007, no site da Universidade Presbiteriana Mackenzie, por seu chanceler, Reverendo Dr. Augustus Nicodemus Gomes Lopes. Se ativistas homossexuais pretendem criminalizar a postura da Universidade Presbiteriana Mackenzie, devem se preparar para confrontar igualmente a Igreja Presbiteriana do Brasil, as igrejas evangélicas de todo o país, a Igreja Católica Apostólica Romana, a Congregação Judaica do Brasil e, em última instância, censurar as próprias Escrituras judaico-cristãs. Indivíduos, grupos religiosos e instituições têm o direito garantido por lei de expressar sua confessionalidade e sua consciência sujeitas à Palavra de Deus. Postamo-nos firmemente para que essa liberdade não nos seja tirada.

Este manifesto é uma criação coletiva com vistas a representar o pensamento cristão brasileiro.
Para ampla divulgação.

domingo, 14 de novembro de 2010

Uma Multidão Contra Mim

Em 2006, passei o mês de janeiro em Guiné Bissau, na África, junto com uma equipe que, por meio de atendimentos médicos, odontológicos e fisioterapêuticos, investiu na pregação do Evangelho. Atendi cerca de duzentas pessoas e não tenho nem ideia de quantas extrações dentais fiz – extraí nove dentes só de uma mulher. Apesar do trabalho árduo, o que mais trouxe dificuldades foi a diferença de cultura e de hábitos. Nesse aspecto, dei uma “mancada” que quase me custou uma surra de um grupo de jovens senegalezes.

Mesmo com as claras orientações do missionário que nos hospedou sobre o cuidado com as fotos, fotografei a estrutura de um mercado popular, algo parecido com barracas de camelôs, sem perceber que havia pessoas nas proximidades. Estas, ao perceberem o disparo da câmara, protestaram com veemência. Quando notei o que eu havia feito, me desculpei com eles na esperança de resolver o assunto. Mas, para meu espanto, foi chegando cada vez mais gente e cada vez mais brava. Uma missionária, então, interveio. Em lugar de melhorar a situação, outros homens se juntaram ao grupo com expressões de rancor, gritando coisas que eu não podia compreender. A única coisa que entendi, para meu desespero, foi a palavra “arrebentar”. Por fim, aos poucos fui afastado da multidão por uma pequena menina e posto em segurança dentro do carro. Que susto!

Davi teve um problema parecido, não com relação a fotografias, mas em relação à uma multidão contrária a ele. Absalão, por meio de dissimulações e tramoias, reuniu, em Hebrom, a título de uma festa pela tosquia do seu rebanho, um grupo de aristocratas e de militares de Israel (2Sm 15). Tendo combinado secretamente uma conspiração contra Davi em todo o país, no momento certo Absalão se proclamou rei em Hebrom e, ao som de trombetas tocadas do Sul até o Norte, a frase “Absalão é rei em Hebrom” foi proclamada por todo o reino. Apesar de as pessoas na festa nada saberem, as circunstâncias as obrigaram a aderir ao movimento. O mesmo ocorreu nos quatro cantos do território. Assim, em pouco tempo “tornou-se poderosa a conspirata e crescia em número o povo que tomava o partido de Absalão” (2Sm 15.12). O próximo passo de Absalão foi partir para Jerusalém a fim de tomar o trono de Davi, seu pai. Este, enquanto fugia do filho, foi ainda perseguido e atacado até por gente da própria Jerusalém (2Sm 16.5-8).

Nesse contexto, Davi exclama ao Senhor (v.1): “Como têm se multiplicado os meus inimigos; são muitos os que se levantam contra mim!” (mâ-rabbû tsaray rabbîm qamîm ‘alay). A palavra usada para “inimigos”, aqui, também pode ser traduzida como “agressores”. Tratava-se de um grupo violento. Davi tinha um histórico glorioso como guerreiro e como general. Venceu muitas vezes tropas numerosas. Mas, dessa vez, a situação era desesperadora. Quase todo o país se uniu a Absalão em um dos mais bem executados golpes de estado da História. Poucos foram os que permaneceram fiéis a Davi. Por causa disso, as pessoas olhavam para o rei e diziam (v.2): “Não há, para ele, salvação em Deus” (’ên yeshû‘atâ lô be’lohîm). Para os tais, nada podia salvar Davi.

Contrariando todas as expectativas, Davi não se desespera. Ele, em lugar disso, busca o Senhor com certas atitudes que devem ser compartilhadas por todos os servos de Deus. Em primeiro lugar, ele entrega seu caminho ao Senhor (v.3-5). Davi, falando da atuação de Deus em relação a ele diz: “Ele é ‘o escudo que me protege’ (magen ba‘adî), ‘a minha dignidade’ (kebôdî), ‘aquele que levanta a minha cabeça’ (merîm ro’shî). Com isso, Davi se esvazia da função de garantir seu próprio bem-estar, pois o responsável e o promotor desse bem é o Senhor em pessoa. Por esse motivo, Davi também não desanima, nem anda de cabeça baixa como quem não tem esperança. Imagine só o que essa esperança significa para um rei que tem de fugir da sua cidade parecendo um covarde, além de ser agredido verbalmente e se tornar alvo de pedras como se fosse um cachorro!

O rei Davi, também, durante a fuga diante dos inimigos, busca o Senhor em oração (vv.4,7). “Minha voz clama ao Senhor” (qôlî ’el-yehwâ ’eqra’) são as palavras utilizadas (v.4) para se referir à sua atitude de pedir a Deus, em oração, que faça o que ele, mesmo sendo rei, não conseguia fazer. No v.7 há um dos exemplos mais sucintos de oração e, ainda assim, mais corretos à vista da Teologia. O rei, deixando de lado a pompa, os métodos e os costumes, simplesmente se dirige a Deus com o clamor que sua necessidade exige: “Salva-me, meu Deus” (hôshî‘enî ’elohay). Não há como olhar para esse pedido sem recordar de Pedro, entre ondas bravias que o afundavam, clamando a Jesus: “Salva-me, Senhor!” (Mt 14.30). Apesar de, na hora das dificuldades, ser comum algumas pessoas se esquecerem de Deus para se concentrarem na solução dos problemas, é justamente nessa hora que os servos de Deus devem clamar “salva-me, Senhor”.

Como resultado da entrega e da oração, Davi, agora, descansa em Deus (vv.5,6). Apesar do conflito familiar, das acusações falsas e do real risco de perder a vida, ao dizer que se deita e dorme, ele completa: “Acordo porque o Senhor me mantém” (heqîtsôtî ki yehwâ yismekenî). Davi demonstra, nessa frase, não sofrer de insônia nas horas de tribulação justamente porque sabe que o Senhor atua na sua proteção e amparo. Isso o tranquiliza e o faz descansar. A coragem de Davi é fruto dessa confiança e não dos seus recursos militares. Diz: “Não temo a multidão de pessoas que me cercam” (lo’-’îrâ meribbôt ‘am ’asher savîv shatû ‘alay). Note bem: Davi escreve isso sabendo que, “de fato”, milhares de soldados estão se preparando para cercá-lo e matá-lo.

“A salvação pertence ao Senhor” (layhwâ hayshû‘â) é a declaração final do rei (v.8) mesmo quando tudo parece perdido, quando é tratado de modo indigno e vergonhoso e, ainda, quando tem todos os motivos para, humilhado e de cabeça baixa, desistir de tudo. Alguém até poderia dizer que Davi tinha “nervos de aço”, mas acho que ele não concordaria. Em lugar disso, ele falaria sobre a soberania de Deus, sobre seu amor e zelo pelos que lhe pertencem, sobre a confiabilidade de suas palavras, sobre o papel da oração e coisas do tipo. Enfim, Davi renderia toda a glória a Deus e, assim, explicaria sua confiança em um dos piores momentos da sua vida.

Recordando o susto que passei na África, quando a multidão aumentava em número e fúria contra mim, não me lembro de ter pensado em todos esses pontos teológicos extraídos do Salmo 3 – acho que isso nem aconteceu. Entretanto, seus efeitos práticos foram sentidos por mim. Se não me recordo de todos os detalhes do que pensei no momento, lembro-me como se tudo tivesse ocorrido ontem, que, como o salmista e o apóstolo, confiante no poder de Deus, clamei de todo o coração: “Salva-me, Senhor”.

Pr. Thomas Tronco

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Igrejas Pós-modernas (Parte 1)

Pós-modernidade é a expressão usada para descrever os últimos trinta ou quarenta anos, fase em que o homem ocidental desistiu da busca racional da verdade, afirmando que ela é múltipla e subjetiva. Segundo a visão pós-moderna, cada indivíduo tem a sua verdade particular, sendo todas as concepções existentes igualmente válidas e dignas do respeito de todos.

A visão pós-moderna invadiu a igreja de maneira que até mesmo as denominações históricas foram contaminadas deixando de lado a firme defesa da verdade única do evangelho e dando espaço para uma “mente mais aberta”, contrária às concepções cristãs sólidas, agora taxadas de “fundamentalistas” ou “radicais”.

Basicamente, as igrejas pós-modernas apresentam quatro traços distintivos: hermenêutica relativista, discurso conciliador, ênfase excessiva na liberdade humana e afrouxamento ético/moral.

No tocante ao primeiro traço, a hermenêutica relativista, este se refere ao fato de que o púlpito pós-moderno não se preocupa com a busca de um significado fixo no texto bíblico. Os pregadores que atuam nessas igrejas não se empenham na tentativa de descobrir a intenção autoral quando trabalham sobre uma determinada porção das Escrituras. Antes, crendo que a verdade é múltipla, atribuem ao texto sagrado o sentido que acham melhor ou mais conveniente. A pregação pós-moderna é, assim, mais uma exposição de percepções e insights pessoais do pregador do que uma apresentação objetiva do que a Bíblia realmente diz, com suas inevitáveis implicações e aplicações para a vida das pessoas.

Essa leitura subjetiva da Bíblia não fica, contudo, limitada ao púlpito das igrejas pós-modernas. Seus membros também a praticam. Por isso, é comum ouvir-se indivíduos que pertencem a essas comunidades dizendo: “Essa passagem tem várias interpretações” ou, quando são confrontados à luz da Bíblia, por causa de algum erro que cometem, evadirem-se, afirmando: “Desculpe, essa é a sua interpretação dessa passagem. Eu entendo esse texto de forma diferente.”

Conforme se vê, a hermenêutica adotada nas igrejas pós-modernas esvazia a Bíblia de sua autoridade. Atribuindo ao texto sagrado um universo infinito de sentidos, a Bíblia se torna, para essa nova classe de cristãos, um livro inútil para ensinar, repreender, corrigir e educar na justiça (2Tm 3.16).  Além disso, sob a óptica de que a Bíblia tem múltiplos sentidos, todos igualmente aceitáveis, qualquer crente sincero que tentar “impor” a compreensão natural do texto a outro membro da igreja, tentando admoestá-lo como irmão, é, imediatamente, visto como orgulhoso, como alguém que pensa que só a visão dele é a certa, ou como pessoa que não tem o fruto do Espírito, pois não ama até o ponto de respeitar o ponto de vista do outro.

Assim, quem quiser obter a simpatia dos membros das igrejas pós-modernas deve ser “politicamente correto”, jamais se manifestando contra o modo muitas vezes absurdo como os outros compreendem as questões tratadas na Palavra de Deus.

Isso conduz ao segundo traço das igrejas pós-modernas: o discurso conciliador. Não havendo uma verdade fixa, ou somente um sentido nos escritos bíblicos, qualquer forma de religião ou de espiritualidade deve ser considerada válida, segundo o pensamento dos crentes pós-modernos. Portanto, o caráter exclusivo do cristianismo, a forma como sempre se apresentou na história como o singular detentor da única mensagem que pode salvar o homem (Jo 14.6; At 4.12; Ef 4.4-5; e 1Tm 2.5) é totalmente desprezado no discurso evangélico pós-moderno. 

Como resultado, as igrejas que adotaram essas noções jamais denunciam os erros doutrinários propostos pelo espiritismo, pelas religiões orientais ou pelas seitas pseudocristãs. Na verdade, é mais fácil (e mais comum!) atacarem crentes convictos, acusando-os de terem visão estreita e radical, do que reprovarem os falsos credos.
Note bem: não é que os cristãos pós-modernos concordam com as doutrinas espíritas ou com os ensinos das seitas ou mesmo com as lições das religiões orientais. O que ocorre é que, para eles, concordar ou não com essas doutrinas (ou com qualquer outra) é irrelevante. Segundo os pastores e membros dessas igrejas, o que deve ser levado em conta na avaliação dos diferentes credos é que todos, supostamente, perseguem os ideais supremos de construir uma sociedade com menos sofrimento e de oferecer paz e consolo ao triste coração humano. De acordo com o discurso cristão pós-moderno, só isso é relevante, sendo precisamente nesse ponto que qualquer forma de espiritualidade ou de religiosidade se iguala ao cristianismo, tanto em importância como em validade.

O fato de as religiões em geral terem cosmovisões ou sistemas doutrinários diferentes do que é ensinado na Bíblia é, pois, assunto secundário para a nova mentalidade cristã; um detalhe sem importância, já que, não havendo verdade fixa, o essencial é a sinceridade de cada um na adoção de suas crenças, a busca (comum a todas elas) por um mundo melhor e a tolerância com quem pensa diferente.

Por isso, o pensamento cristão pós-moderno é tão conciliador. Nele não há espaço (e nem motivo) para o discurso bíblico que condena o erro, opõe-se ao desvio e denuncia a mentira. O homem pós-moderno não entende que agir assim faz parte do dever cristão (Mt 22.29; 2Co 10.5; Gl 3.1-3; 2Tm 2.25-26). Para ele, o crente zeloso que exorta e corrige é soberbo e sem amor.

(Continua na próxima semana)

Pr. Marcos Granconato
Soli Deo gloria

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

O ‘Irmão Mais Velho’ dos Servos de Deus

Nunca fui uma criança de brigar na escola. Na verdade, nunca troquei socos com ninguém na minha vida. Minhas demandas sempre foram resolvidas por meio da boca e não das mãos. Entretanto, vi muitos colegas resolverem suas diferenças “no braço”, como se diz por aí. Quando a discussão não chegava a tanto, as ameaças e palavrões eram ouvidos a boa distância. Para piorar, quase nunca a solução vinha rapidamente. Ninguém queria deixar a última palavra para o adversário. Isso fazia com que problemas bobos se arrastassem por um bom tempo em uma discussão inútil e totalmente desrespeitosa.

Contudo, um fator era capaz de amainar os ânimos e até encerrar uma briga acalorada: a ameaça de recorrer ao irmão mais velho. A discussão se mantinha em igualdade até que a possibilidade de alguém mais forte e motivado pela proteção do irmão mais novo tornava o atrito um grande risco para a outra parte. Esta, temendo ter de enfrentar alguém cuja força e tamanho fariam com que uma “surra” fosse inevitável, normalmente mostrava-se desinteressada por continuar a demanda e tratava de por fim ao embate a tempo de se livrar do pior. No final das contas, a ameaça da intervenção de um irmão mais velho servia como um agente pacificador.

Algo parecido ocorreu com o escritor do Salmo 2. Trata-se de um rei de Israel que Atos 4.25,26 identifica como o rei Davi. A situação que ele vivia, nesse momento, era o risco de uma revolta de nações (vv.1,2) que estavam sob seu domínio em uma espécie de motim (v.3). A possibilidade de elas criarem uma liga militar trazia um grande risco para o rei, chamado aqui de “seu ungido” (desde o início da monarquia em Israel, esse termo, meshîhô, é usado para se referir a reis ou futuros reis – 1Sm 12.3-5; 16.6; Sl 20.6; 28.8). A revolta dos amonitas e de povos contratados para combaterem os israelitas (2Sm 10.6) é um possível pano de fundo histórico para a composição desse salmo.

Porém, enquanto tais povos se uniam e conspiravam contra Davi (vv.1-3), aquilo que era um risco real para Israel era motivo de risos para Deus (v.4). Como um “irmão mais velho” mais forte que os outros, Deus “ri” (yischaq) e “caçoa” (yil‘ag) dos inimigos do seu protegido. Tal reação se deve ao disparate entre a capacidade dos inimigos de Davi de feri-lo e a capacidade do Senhor de protegê-lo. A diferença é tão grande que a ousadia dos ofensores causa risos em lugar de pânico. O próprio Deus demonstra o motivo de serem inúteis os planos dos povos dizendo: “Eu ungi meu rei sobre Sião, meu monte santo” (wa’anî nasaktî malkî ‘al-tsîyôn har-qodshî). Desse modo, levantar-se contra o rei de Israel era se levantar contra Deus que o colocou lá. Não é possível enfrentar um oponente como Deus.

O Senhor, então, reafirma sua benevolência para com Davi chamando-o de filho (v.7), prometendo-lhe o domínio sobre outras nações (v.8) e poder suficiente para regê-las (v.9). O rei, confiado na força do “irmão mais velho”, alerta os reis adversários a serem cautelosos (v.10) e se colocarem na posição de servos do Senhor (v.11), desistindo de atacar seu filho (v.12). Esta é, segundo Davi, a disposição e a atitude que garantirá a “felicidade” desses reis e de seus súditos.

Apesar da útil e completa lição que temos ao olhar para o texto sob esse prisma, o Novo Testamento dá uma visão mais ampla do sentido desse salmo. Vários escritores neotestamentários associam o Salmo 2 a Jesus como um cumprimento profético do que Davi escreveu. Em At 4.25,26, Pedro cita o trecho do salmo que diz “por que se enfureceram os gentios e os povos imaginaram coisas vãs? Levantaram-se os reis da terra e as autoridades ajuntaram-se à uma contra o Senhor e contra o seu Ungido” e faz uma aplicação do texto se referindo a Herodes, Pilatos, gentios e israelitas que se uniram contra Jesus (At 4.27,28). Paulo e o autor de Hebreus relacionam o texto “tu és meu Filho, eu, hoje, te gerei” a Jesus (At 13.33; Hb 1.5; 5.5). Além disso, menções no Salmo 2 sobre o seu reinado em Sião sobre as nações que são sua herança, seu cetro de ferro, sua ira vindoura e a felicidade para os que nele se refugiam são referências que se cumprem melhor em Cristo que no próprio rei Davi, escritor do salmo.

Quando se vê o Salmo 2 desse ângulo, novas lições para hoje nos surgem. Aprendemos que as maquinações do mundo contra o Messias são tão inertes que causam risos no Senhor. Independente dos rumos da História e do poder dos homens, o Senhor Jesus é aquele que há de reinar e possuir toda a terra. Apesar de parecer que os maus nunca são punidos, a mão do Rei pesará sobre os perversos trazendo-lhes condenação. E, mais: não importa o quanto o mundo é cruel conosco, Jesus, nosso “irmão mais velho”, é nosso refúgio e o provedor de uma vida “bem-aventurada”.

Portanto, seja sempre pacífico e cordato. Mas, lembre-se bem, se o mundo e as circunstâncias da vida lhe atacarem e quiserem “sair no braço” com você, conte sempre com o “irmão mais velho”, o Senhor Jesus, para lhe proteger e guiar, fazendo cessar as ameaças ou intervindo nelas para proteger seus “irmãozinhos mais novos” por quem deu sua vida na cruz.

Pr. Thomas Tronco