sexta-feira, 24 de junho de 2011

O Jesus que Muitos Não Conhecem

O homem mais falado na história humana é Jesus Cristo. Infelizmente, não há uma unidade no que se fala a respeito dele. As pessoas falam livremente do seu perfil e obra, mas pecam em seus comentários porque não o conhecem por completo.

Há uma infinidade de livros que falam a respeito dele e todas as linhas filosóficas e religiosas têm a necessidade de argumentar sobre ele, pois é o mais marcante nome da história. Esse nome abre um espaço largo para a aceitação imediata de qualquer coisa que se diga se “foi ele que disse”. É interessante para os pensadores e líderes usarem a imagem de Cristo sob o seu próprio prisma, visto que por ele se obtém um controle mais forte das pessoas à sua volta.

Mas alguns erros, dentre muitos, precisam estar bem claros no trato a respeito de Jesus Cristo:

1)   É totalmente errado limitar a definição de Jesus Cristo a um personagem histórico. Ele não é um mártir, um pensador, um mágico, um bom homem, alguém de outro lugar;
2)   É também errado dizer que ela é apenas um homem com poder, pois isso é consequência do que ele realmente é. Ele é mais que um profeta, um mestre ou um homem de grande poder, pois isso tudo é o comportamento natural de seu ser.

A Bíblia é a única fonte de referência exata de todas as descrições corretas a respeito dele (Jo 5.35). Até os seguidores de Cristo cometeram este erro e foram reprovados nesta avaliação (Lc 24.19-25). E os seguidores de Cristo são reprovados porque não o recebem como ele é, mas como querem que ele seja (Jo 1.11).

Algumas coisas, por outro lado, são sumárias no real entendimento. Cristo é:

1)   Filho de Deus (Lc 9.35), logo é Deus;
2)   O cordeiro de Deus entregue à morte pelos homens como pagamento pelo preço do pecado (Jo 1.29). A comunhão com Deus depende única e exclusivamente disso;
3)   Senhor que quer ser obedecido (Jo 14.21). Suas ordens também estão na Bíblia;
4)   Criterioso sobre o modo como é apresentado aos povos (Lc 24.25).

Repetindo: O Jesus Cristo correto, dentre tantos outros, é o Jesus da Bíblia.

É responsabilidade dos crentes em Cristo promover o seu nome, saber sua vontade e obedecer seus mandamentos. É necessário levar a sério, pois qualquer desvio leva o discípulo ao pecado (Mt 22.29). Isso é tão real que muitas pessoas que dizer ser crentes nunca conheceram de fato a Jesus, de modo que se deve até mesmo considerar a evangelização dentro do rol de membros das igrejas.

Estas coisas são observadas nas vidas das pessoas pelos seus conjuntos de valores que pelo comportamento revelam que não estão de acordo com a Palavra de Deus e nem em comunhão santa e verdadeira com o Deus da verdade (Jo 14.6).

Se você, crente, quer conhecer a Deus pelo Senhor Jesus – uma coisa é o resultado da outra –, pode começar por textos que, pessoalmente, acho empolgantes como Hebreus 1 e João 14. A Bíblia é integralmente ligada a ele.

Ah! Ele também não é um anjo, viu?! Mas depois podemos falar sobre isso. Conheça-o e compartilhe o que aprendeu.

João Ivo Matos da Silva
Membro da IBR-SP

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Desencorajamento Demoníaco

Há algum tempo escutei uma história sobre um casal de missionários experientes que abandonou o campo missionário após ser surpreendido por mais vicissitudes do que as que estão normalmente reservadas aos que se propõem à vida missionária. As dificuldades eram muitas, o trabalho parecia não progredir e eles refletiram bastante se deveriam ou não manter o plano germinado em seus corações. Logo, optaram por deixar o campo missionário. Entretanto, o marido, já sob o conforto de sua casa e vendo-se livre das intempéries da vida missionária, disse à sua esposa: “O diabo nos enganou”.

O desencorajamento é uma das armas mais eficazes de Satanás contra o povo de Deus. De modo hábil, Satanás tem buscado abater o povo de Deus substituindo a coragem e ousadia oriundas do Espírito Santo pela covardia e abatimento espiritual de origem demoníaca. Por outro lado, Satanás, ironicamente, sabe inverter os papéis da coragem e da covardia entre os seres humanos. Ele desencoraja os crentes a negar a si mesmos e os encoraja a dar vazão às concupiscências da carne.

O resultado? Uma interessante combinação de qualidades: coragem para pecar e covardia para servir a Deus.

Essa estratégia maligna não é nova. Jó foi alvo desse desencorajamento maligno, mas resistiu. Elifaz, o primeiro amigo a se manifestar diante da calamidade em que se encontrava a vida de Jó, não poupou ataques ao amigo dizendo: “Eis que Deus não confia nos seus servos e aos anjos atribui loucura. Quanto menos àqueles que habitam em casas de lodo, cujo fundamento está no pó, e são esmagados como a traça!” (Jó 4.18,19).

De modo interessante, o texto nos revela que essas palavras de desencorajamento foram dadas a Elifaz por um espírito que passou diante dele, o deixou arrepiado e que a feição não era possível ser reconhecida (Jó 4.15,16). Considerando que as mensagens dirigidas a Jó são claramente caluniosas, não é difícil perceber que Elifaz foi enganado por um espírito demoníaco e, de modo temerário, as descarregou sobre Jó. É importante notar: Elifaz foi o primeiro a se manifestar entre o grupo de amigos!

Desse pequeno trecho emanam, pelo menos, três lições: 1) Satanás utiliza a calúnia e a ofensa para desencorajar os servos de Deus; 2) Satanás faz com que as mensagens de desencorajamento cheguem muito rápido aos ouvidos do servo de Deus que sofre; 3) Satanás pode enganar as pessoas mais próximas do servo para que sua mensagem de desencorajamento chegue aos seus ouvidos com maior credibilidade.

Como combater o desânimo e o desencorajamento demoníaco? Podemos seguir o exemplo de Jó, pois ele resistiu aos ataques de desencorajamento de Satanás confiando nas promessas de Deus: “Ainda que ele me mate, nele esperarei; contudo os meus caminhos defenderei diante dele” (Jó 13.15). “Porque eu sei que o meu Redentor vive, e que por fim se levantará sobre a terra” (Jó 19.25).

O apóstolo Pedro encoraja os crentes a ter a mesma conduta que Jó diante desses desencorajamentos provenientes de Satanás: “Ao qual [Satanás] resisti firmes na fé, sabendo que as mesmas aflições se cumprem entre os vossos irmãos no mundo” (1Pe 5.9).

Diante desses preceitos bíblicos podemos perceber que o conceito da “paciência de Jó” – tão deturpado nos dias de hoje entre os ímpios – possui uma dimensão maior e mais nobre que simplesmente suportar as dificuldades da vida. Ela é uma virtude concedida por Deus aos servos que estão firmemente engajados na batalha espiritual legítima e que estão sob os intensos ataques desencorajadores de Satanás.

“Eis que temos por bem-aventurados os que sofreram. Ouvistes qual foi a paciência de Jó, e vistes o fim que o Senhor lhe deu; porque o Senhor é muito misericordioso e piedoso” (Tg 5.11).

Leandro Boer

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Mudança para Pior

Ouvi, certa vez, que o tempo tem uma maneira toda especial de mudar as coisas e as pessoas. Quanto mais eu vivo, mais concordo com essa frase. Entretanto, não é apenas a vida que atesta o poder do tempo para transformar as coisas. A Bíblia também dá exemplos incisivos nesse sentido. Algumas mudanças são para melhor, como no caso de Jacó que, depois de um histórico contendo algumas trapaças, buscou a bênção que vinha de Deus e não dos seus próprios meios (Gn 32.24-30). Ou do rei Manasses que, depois de um início de reinado terrível no qual chegou ao cúmulo de sacrificar seu filho em uma adoração pagã, recebe uma severa disciplina de Deus e passa por uma conversão que muda totalmente sua vida (2Rs 21.1-16 cf. 2Cr 33.10-16).

Contudo, nem todas as mudanças descritas na Bíblia foram para melhor. O caso de Salomão é um dos exemplos de homens que começaram bem, mas que, com o tempo, foram se desviando dos seus objetivos iniciais e dos caminhos do Senhor. Ele começou seu reinado como um homem de bem e como um bom servo de Deus: “Salomão amava ao Senhor, andando nos preceitos de Davi, seu pai” (1Rs 3.3a). Um das suas primeiras providências foi ir ao tabernáculo, onde Deus lhe disse: “Pede-me o que queres que eu te dê” (1Rs 3.5b). Podendo pedir qualquer coisa, sua oração foi: “Dá, pois, ao teu servo coração compreensivo para julgar a teu povo, para que prudentemente discirna entre o bem e o mal; pois quem poderia julgar a este grande povo?” (1Rs 3.9). Isso foi tão agradável a Deus que este abençoou o novo rei israelita com bênçãos de todo tipo.

Apesar do bom começo, o final da vida de Salomão foi marcado por atitudes ruins e contrárias ao seu desejo inicial. Ele formou para si um harém com cerca de mil mulheres (1Rs 11.3 cf. Dt 17.17), criou um sistema pesado de impostos e de trabalhos forçados (1Rs 11.28 cf. 12.4) e cometeu a loucura de adorar os falsos deuses das suas mulheres (1Rs 11.4-8). A pergunta natural que se faz diante desse contraste é: “O que aconteceu com Salomão? O que o fez mudar tanto?”. Felizmente, para o nosso ensino, o próprio Salomão dá pistas do que ocorreu na sua vida.

Em primeiro lugar, ele não refreou seus desejos. Ele confessa: “Tudo quanto desejaram os meus olhos não lhes neguei, nem privei o coração de alegria alguma” (Ec 2.10a). Seguindo essa filosofia às avessas, Salomão diz que se deu à bebida e ao prazer de muitas mulheres (Ec 2.3,8b).

Em segundo lugar, ele buscou alegria nas posses: “Empreendi grandes obras; edifiquei para mim casas; plantei para mim vinhas. Fiz jardins e pomares para mim e nestes plantei árvores frutíferas de toda espécie. Fiz para mim açudes, para regar com eles o bosque em que reverdeciam as árvores. Comprei servos e servas e tive servos nascidos em casa; também possuí bois e ovelhas, mais do que possuíram todos os que antes de mim viveram em Jerusalém. Amontoei também para mim prata e ouro e tesouros de reis e de províncias” (Ec 2.4-8a).

Finalmente, ele deu vazão ao seu orgulho. Ele alcançou o intento de superar a todos: “Engrandeci-me e sobrepujei a todos os que viveram antes de mim em Jerusalém” (Ec 2.9a). Nesse aspecto, ele se tornou um rei invejável, admirado e elogiado por muitos reis (1Rs 10.4-10; 2Cr 9.23,24). Mas os muitos elogios parecem não lhe terem sido benéficos, visto que um dos seus provérbios talvez seja fruto da experiência pessoal: “Como o crisol prova a prata, e o forno, o ouro, assim, o homem é provado pelos louvores que recebe” (Pv 27.21).

O ponto positivo de tudo isso é que nos fica, pelas Escrituras, a lição sobre o que não fazer e o que não permitir ao nosso coração para que se desvie. Pela pena do próprio Salomão, que aprendeu duramente como não agir, fica a lição que qualquer um pode aprender, mesmo aqueles que não foram dotados com o entendimento dado por Deus ao rei de Israel. Seu conselho vale para todos e é tão atual quanto no dia em que foi escrito: “O temor do Senhor é o princípio do saber, mas os loucos desprezam a sabedoria e o ensino” (Pv 1.7); e “de tudo o que se tem ouvido, a suma é: Teme a Deus e guarda os seus mandamentos; porque isto é o dever de todo homem. Porque Deus há de trazer a juízo todas as obras, até as que estão escondidas, quer sejam boas, quer sejam más” (Ec 12.13,14). Uma lição importante como essa só pode mesmo ser completada com a famosa frase de Jesus: “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça” (Mt 13.43b).

Pr. Thomas Tronco

sexta-feira, 3 de junho de 2011

O Cristão Diante da Morte (Parte 2)

Convém agora falar acerca da maneira como o crente deve agir diante de pessoas que sofrem a dor da separação ocasionada pela morte de um parente ou amigo. É comum nessas ocasiões vermos vários indivíduos tentando desempenhar o papel de consoladores, trazendo palavras com as quais pretendem suscitar certo conforto nos que pranteiam.

Porém, infelizmente, nesses momentos, com frequência, ouvimos esses consoladores (que às vezes se apresentam como cristãos ou até pastores!) dizer as mais grosseiras tolices e devaneios, acreditando que seus ares artificiais de sabedoria podem emprestar autoridade às palavras absurdas que proferem. Um diz que o incrédulo morto descansou (!); outro, que, de algum lugar, a alma do defunto estará cuidando doravante daqueles que aqui permanecem; outro, ainda, fica enaltecendo virtudes imaginárias do falecido, suscitando dúvidas nos presentes sobre se vieram ao velório da pessoa certa.

Todas essas demonstrações de ignorância são absolutamente infrutíferas. É na Bíblia que aprendemos como ajudar os enlutados. Paulo ensina, em 1Tessalonicenses 4, com que palavras devemos consolá-los. Ele diz nos versículos 13-17 que, assim como Jesus morreu e ressuscitou, Deus, mediante Jesus, um dia trará juntamente em sua companhia os crentes que morreram; diz ainda que o Senhor, depois de dar sua palavra de ordem, uma vez ouvida a voz do arcanjo e ressoada a trombeta de Deus, descerá dos céus, e os crentes mortos ressuscitarão; diz também que os cristãos que estiverem vivos nesse dia serão arrebatados junto com os que hão de ser ressuscitados e, entre nuvens, todos subirão ao encontro do Senhor nos ares a fim de permanecer para sempre com ele.

Depois de expor tudo isso, Paulo diz: “Consolai-vos, pois, uns aos outros com estas palavras” (v.18). Por isso, bem fariam todos os cristãos se conhecessem a fundo “estas palavras”. Isso os tornaria mais úteis no auxílio dos que sofrem em razão da separação, evitaria emudecerem diante dos que, inconsoláveis, pranteiam a morte de alguém, e poria freio nos desvios que com soberba os indoutos proclamam em momentos tão propícios à reflexão da verdade.

Evidentemente, as palavras que Paulo escreveu servem apenas para o consolo dos que choram a morte de crentes. No texto analisado acima, o apóstolo ensina sobre a tranquilidade que podemos ter quando pensamos nos mortos em Cristo (1Ts 4.16).

Em se tratando da morte de incrédulos, nenhuma palavra agradável pode ser dita a respeito do estado ou do lugar em que a alma deles se encontra. Isso porque a Palavra de Deus é extremamente amarga quando fala sobre o destino eterno dos que não receberam Jesus Cristo, crendo nele como Salvador de sua vida. Tais pessoas, segundo as Escrituras, estão condenadas ao tormento eterno no inferno, preparado para o diabo e seus anjos, onde o verme não morre e o fogo nunca se apaga! (Mt 25.41, 46; Mc 9.43-48; Lc 16.19-31; Jo 3.36; Ap 20.11-15).

É claro, porém, que o cristão deve ter tato. Há maneiras sábias de dizer essa verdade num funeral de pessoa incrédula. Basta, durante conversas particulares ou no pronunciamento de um breve sermão dirigido a todos, chamar a atenção não para a condição espiritual do defunto (que já não importa mais), mas para a condição espiritual dos ouvintes. Esse proceder preservará o que realmente é importante e livrará o cristão comum ou o pastor de situações embaraçosas.

Entretanto, é evidente que se alguém perguntar sobre o destino da alma do falecido incrédulo, terá o cristão de, cuidadosamente, dizer a verdade. O consolo enganador é obra do mundo e do diabo, não dos ministros de Cristo. E é melhor os ouvidos dos enlutados serem alertados por verdades dolorosas que o coração deles ser iludido com uma falsa paz.

Uma forma sábia de agir diante de perguntas embaraçosas formuladas nesses momentos é fazer o interlocutor chegar a suas próprias conclusões. Basta responder-lhe brandamente com perguntas do tipo: “A Bíblia diz que só os crentes em Cristo são salvos. Ele era crente em Cristo?”. Respondendo a essa questão, o interlocutor chegará às suas próprias conclusões, sejam elas tristes ou não. Caso responda que não sabe, então o servo do Senhor deverá dizer: “Se não sabemos se ele morreu tendo fé em Cristo ou não, também não podemos saber onde a alma dele está”.

Pr. Marcos Granconato
Soli Deo gloria

quarta-feira, 25 de maio de 2011

As Recordações do que Deus Faz

Tenho muitas recordações maravilhosas do meu passado. Algumas delas, surpreendentemente, de quando eu era muito pequeno. São lembranças que vêm e vão, mas que, apesar da sua volatilidade em minha mente, ainda produzem sensações agradáveis. Há também lembranças dolorosas – algumas delas “literalmente” dolorosas. Refiro-me a lembranças das frequentes injeções de antibióticos que eu tomava por causa de infecções de garganta que insistiam em me atacar. O problema não eram as injeções em si, já que, com a devida técnica e com a cooperação do paciente, nenhuma injeção é realmente ruim. Mas cooperação era algo que não vinha de mim. Na verdade, quando eu tomava injeções na farmácia perto da minha casa, ninguém podia comprar nada até que eu fosse liberado, já que “todos” os funcionários tinham de me segurar. Era terrível – e por culpa minha.

Depois de adulto, mas ainda com o trauma de criança, precisei tomar uma sequência de injeções de antibióticos. Eram duas injeções por dia durante quase uma semana. Já fazia pelo menos quinze anos que eu não recebia nenhuma injeção. A primeira delas foi um drama para mim. Minha impressão inicial era de que eu sentiria uma dor insuportável, coisa que nem de perto aconteceu – na verdade, não senti nem a agulha. Nos próximos dias fui recebendo novas doses, sempre em meio ao pânico. Isso perdurou até que me lembrei, em certa dose, que em nenhuma das aplicações anteriores eu havia sofrido qualquer dor. Lembrei-me de que, mediante minha cooperação, nenhuma aplicação doeu. Foi nesse momento que deixei a experiência do passado me acalmar e me livrar do trauma de infância. Hoje, tomo injeções sempre que preciso sem sofrer com isso. Pode parecer pouco, mas para mim foi a libertação de uma escravidão.

Eu não fui o único a me beneficiar de uma recordação. Davi, em um momento de crise, manteve a esperança ao olhar para o passado. O Salmo 61 mostra uma sequência de considerações de Davi diante de uma crise que ele atravessava. Não há um título no salmo que nos ajude a identificar o momento histórico em que ele está inserido. Isso normalmente nos ajuda a compreender cada frase proposta pelo escritor. Contudo, o próprio texto deixa escapar algumas nuances da situação do salmista. Sabemos que Davi estava abalado (v.2) pelos riscos que corria (v.4), riscos de perder o trono e a vida (v.6). Nesse contexto, Davi atravessa três momentos em uma progressão que o leva da angústia à esperança.

O primeiro momento de Davi nessa situação é a tristeza do presente. Fossem quais fossem os detalhes dos acontecimentos ao redor do salmista, o resultado nele é bem definido. Ele diz (v.2): “Da extremidade da Terra eu clamo a ti ao desfalecer o meu coração” (miqtseh ha’arets ’eleyka ’eqra’ ba‘atof livvî). “Desfalecer o meu coração” é uma expressão muito forte. Ela também pode ser traduzida como “no meu desespero”. Não se trata daquele desânimo casual, mas de uma aflição intensa baseada na completa falta de certeza sobre o futuro. O fato de Davi orar a Deus “da extremidade da terra” pode indicar que ele está em uma campanha longe de casa. Uma guerra distante dos próprios domínios é uma guerra em que o inimigo conhece bem a terra e tem, próximo de si, suprimentos e reforços. Isso se dá de modo exatamente oposto no caso dos invasores que, quanto mais longe vão, mais distantes ficam de tudo que prezam e que lhes dá segurança. Não é difícil imaginar como um revés militar em uma situação como essa pode atingir o coração do rei. Davi devia se sentir muito desesperado com os acontecimentos presentes.

Isso tudo o leva ao segundo momento que é o desejo quanto ao futuro. Quem, em um momento de tristeza, não almeja o alívio? Davi não era diferente. Ele olha para o futuro e se imagina protegido do perigo. Esse é seu mais profundo desejo nesse instante. No entanto, como é extremo o seu desespero, é também extremo seu desejo. Ainda no v.2 ele ora: “Que tu me leves até a rocha mais alta que eu” (betsûr-yarûm mimmennî taghenî). Davi quer, aqui, ser colocado em um lugar onde não possa, com suas pernas e braços, alcançar, pois é alto demais para ele. Dificilmente se trata de um lugar físico, mas, utilizando-se de uma figura de linguagem, ele se refere à segurança que somente Deus pode fornecer e garantir. O próprio Senhor é chamado algumas vezes pelo salmista de “rocha”, no sentido de ser o sumo protetor dos que lhe pertencem (Sl 19.14; 62.7) – outros escritores se referiram a Deus nos mesmos termos, sempre atrelando sua segurança pessoal à atuação que vem dele (Dt 32.31; Ps 89.26; 94.22; Is 26.4). Assim, o que Davi pede é algo que para ele é “inatingível”. Seu desejo quanto ao futuro só pode ser alcançado pela mão protetora do Senhor. Somente Deus poderia fazê-lo voltar em segurança para casa, para a presença dos seus amados e para as funções do seu trono.

Como ninguém, exceto Deus, pode conhecer o futuro, o salmista não se sente tranquilo simplesmente por ter desejos quanto ao que viria. Ele sabia que era possível que seus anseios não se realizassem, visto que não estavam sob seu controle. Essa correta percepção conduz, então, o salmista ao seu terceiro momento na situação que é a lembrança do passado. Se Davi não conhecia o futuro, certamente conhecia o passado. Sabia das experiências que tivera com Deus. Se o Senhor agiu de maneiras diversas em cada dificuldade que Davi atravessou, um fator esteve sempre presente: o cuidado de Deus para com o servo. Com isso em mente, Davi justifica sua oração a Deus (v.3): “Pois tu foste o meu refúgio, uma torre forte na presença do inimigo” (kî-hayiyta mahseh lî migdal-‘oz miffenê ’ôyev). Eis o que há nas recordações de Davi: o Senhor o ajudando nas dificuldades, protegendo-o dos inimigos e dando-lhe vitórias gloriosas. “Por que ele agiria diferente agora?”, deve ter pensado Davi. Por isso, a sequência do salmo contém declarações de confiança e promessas de louvor e de fidelidade – exatamente o modo como o servo de Deus deve se comportar em “todas” as circunstâncias.

Em certo sentido, os momentos vividos por Davi durante sua angústia estão presentes na vida de todos nós. Sempre que os problemas crescem e parecem que nos destruirão, ficamos desanimados e sem esperança. Somos abatidos pela dor. Nesse instante, passamos a desejar um futuro melhor. Vislumbramos o momento em que os fortes laços afrouxarão. Muitas vezes, até encontramos consolo em ilusões que sabemos que, na realidade, não ocorrerão. Se até aqui nossa experiência se iguala à do salmista, o terceiro momento desse crescimento pode ou não surgir em nossa vida. Há quem, durante os problemas, se afasta de Deus e, para tanto, utiliza-se de desculpas como “não estou com cabeça para pensar em Deus no momento” ou “você diz isso porque não sabe o momento difícil que estou atravessando”. Se isso acontece, só se pode esperar mais dor e sofrimento.

Por outro lado, há quem, no passado, notou o amor de Deus sustentando, dirigindo e libertando do mal. As recordações do lamento cedendo lugar ao louvor dão a essas pessoas a devida esperança de que Deus continuará a lhes proteger e a ser rocha que fica acima dos problemas, sua torre forte. E ao fazerem isso, progridem na vida cristã, aprendem a depender mais de Deus, conhecem melhor o Senhor e se submetem cada vez mais a ele. Nesse processo todo, as recordações das bênçãos de Deus no passado são ferramentas fundamentais. Afinal, se a recordação de injeções bem aplicadas podem vencer um trauma de infância, imagine o que fará a recordação da graça atuante de Deus em nossa vida!

Pr. Thomas Tronco

O Cristão Diante da Morte (Parte 1)

O cristão, genuíno membro da igreja de Deus, deve aprender a se comportar adequadamente diante da morte. O estilo de vida do crente verdadeiro não é mera representação teatral, que, em face dos mais profundos sofrimentos da vida, permite tirar a máscara de santidade e revelar desespero e ódio contra Deus. Ao contrário, a verdade é que no enfrentar das situações realmente difíceis, nas quais é impossível manter qualquer grau de hipocrisia ou falsa piedade, a magnitude do caráter cristão maduro desponta com brilho ainda maior.

Que situação mais difícil o homem pode enfrentar do que a morte? É ela o terrível legado que herdamos dos nossos primeiros pais, que desobedeceram ao Criador no Éden (Gn 2.15-17; 3.19; Rm 5.12). É o pagamento indesejado que recebemos por ter pecado (Rm 6.23). É o fim para o qual caminhamos a passos largos (Ec 12.1-7). Mais do que isso, é o inimigo inexorável que vem em nosso encalço para, no inevitável dia do encontro, nos deixar prostrados (Lc 12.20). Nós, coroa da criação, criados não para morrer, mas para viver eternamente!

Que é ensinado na igreja de Deus sobre o modo como o cristão deve comportar-se diante da morte? Conforme o entender dos mestres dessa igreja, qual deve ser a postura do crente quando um ente querido seu parte desta vida? Como ele pode ajudar de modo real e significativo os enlutados? E quando a morte, enfim, o vier chamar? Como deverá proceder?

As respostas dadas a todas essas perguntas devem ter como fundamento as palavras das Sagradas Escrituras. É na Bíblia que obtemos respostas claras e precisas para todas as questões relacionadas à morte, nosso cruel e último inimigo.

De modo prático, o Livro Sagrado mostra que, quando perdemos um ente querido, a tristeza e o choro diante de tão doloroso fato não são censuráveis. Davi, homem de Deus, pranteou amargamente a morte de seu filho Absalão (2Sm 18.32-33). Marta e Maria foram consumidas de tristeza pela morte de Lázaro, morte esta que levou o próprio Senhor Jesus, doador da vida, às lágrimas (Jo 11.33-35). O historiador Lucas nos conta que quando Estevão morreu apedrejado, homens piedosos o sepultaram e fizeram “grande pranto sobre ele“ (At 8.2). O mesmo Lucas narra o quanto os crentes de Jope choraram a morte de Dorcas, irmã amada por todos daquela igreja (At 9.36-39). Inúmeros são os exemplos de homens e mulheres de Deus que choraram quando viram seus queridos mortos.

O apóstolo Paulo ensina que quando o falecido é crente, o desespero por sua morte deve ser evitado. Entretanto, Paulo não ensina que é errado nos entristecermos nessas ocasiões. Diz que não devemos nos entristecer “como os demais que não têm esperança” (1Ts 4.13). Segundo ele, esse tipo de tristeza tão comum nos incrédulos só se aloja no coração de um crente quando ele esquece o fato de que os salvos ressuscitarão um dia. Para Paulo, a amarga tristeza dos incrédulos enlutados está associada à sua falta de esperança. Logo, segundo ele, os crentes não devem entristecer-se como eles uma vez que, cientes da ressurreição futura, têm real esperança.

Por isso, conforme o ensino do grande apóstolo, a postura do cristão diante da morte de outro crente querido seu deve ser de tristeza esperançosa, que é fruto da certeza da ressurreição futura dos salvos. É fato indiscutível que, de posse das verdades acerca da ressurreição dos santos (1Co 15; 1Ts 4.13-18), qualquer crente pode evitar o desespero quando a alma de um de seus queridos salvos parte para o céu. E, não bastasse essa bendita certeza, vem ainda em nosso auxílio nas horas de saudade a doce lembrança das promessas bíblicas acerca do lar celestial, presente morada das almas dos santos que partem deste mundo (Lc 16.22; 23.42,43; Fl 1.21-23; 2Tm 4.18).

É claro que esses consolos podem não nos valer na hipótese de o defunto ser incrédulo. Porém, mesmo nesses casos, não fica o crente desamparado, pois conta com a atividade sobrenatural do Consolador Divino, que lhe alivia as mais profundas dores (Jo 14.16-17; Rm 8.26-27), e pode descansar na soberania de Deus.

É fora de dúvida que uma prática que muito pode ajudar o coração enlutado é o isolamento temporário. Esse isolamento tem por propósito o dedicar-se à oração e não deve ser feito em prejuízo de nossos deveres e responsabilidades. Aprendemos isso com o próprio Mestre. Quando Jesus recebeu a notícia de que João Batista havia sido decapitado (Mt 14.1-12), procurou um lugar isolado (Mt 14.13). O grande assédio de uma multidão doente e faminta interrompeu seu retiro por algum tempo (Mt 14.13-21). Porém, depois de cumprir seu trabalho, buscou novamente o isolamento e orou só, sobre o monte (Mt 14.22,23). O evangelista Mateus diz que esse isolamento em razão do luto durou cerca de dez horas (Mt 14.25)!

Talvez os crentes entristecidos pela morte de alguém ficassem surpresos com o efeito restaurador e didático dessa prática. Infelizmente, o que vemos com frequência são cristãos enlutados derramando o coração ininterruptamente diante de amigos, psicólogos, pastores e conselheiros. É claro que isso tem seu lugar e valor, mas nada pode substituir a busca do consolo de Deus, diante de quem devemos derramar o coração todo o tempo (Sl 62.8; Mt 11.28-30; Fp 4.6,7) e em cuja Palavra sabemos poder encontrar alívio para a nossa alma (Sl 19.7; 119.50).

No episódio narrado por Mateus e analisado acima, é notável outro exemplo deixado pelo Mestre. O texto mostra que, mesmo entristecido pela morte tão cruel de João, o Senhor Jesus Cristo, ao invés de ser amparado, amparou os outros. Socorreu uma multidão necessitada, quando seu próprio coração sofria (Mt 14.14, 19-21). Nisso também os crentes devem imitar seu Salvador. Devem ser como o trigo, que esmagado, produz pão puro para alimentar os que estão ao redor.

Outra lição acerca do comportamento do crente enlutado está no livro de . Todos conhecem a tocante história desse homem piedoso que perdeu bens, saúde e filhos em meio a uma tempestade de provas que o Senhor lhe enviou (Jó 42.11). Todos também conhecem aquelas que talvez sejam suas palavras mais marcantes, pronunciadas logo depois que recebeu a notícia da morte de seus filhos: “…o Senhor o deu, e o Senhor o tomou; bendito seja o nome do Senhor!”. O texto bíblico diz que Jó fez essa declaração após ter-se lançado em terra, em atitude de plena adoração a Deus (Jó 1.18-21).

Isso mostra que, quando está enlutado, o cristão deve fazer que de seus lábios flua o louvor decorrente do reconhecimento da soberania de Deus. Trata-se de um gesto chamado pelo autor da carta aos Hebreus de “sacrifício de louvor” (Hb 13.15), ou seja, um louvor associado à dor, que brota do coração de quem sofre e só se pode esperar do homem que confessa Jesus Cristo e descansa na certeza de que todas as coisas o Senhor realiza de conformidade com sua vontade soberana e sempre boa.

Por isso, quando morre um ente querido, não é correto o crente ficar perguntando inconformado: “Por quê? Por quê? Por quê?”. Na Bíblia aprendemos que é pecado discutir com Deus e questionar suas ações (Jó 38.1,2; 40.1,2; Is 45.9; Rm 9.20). Proceder desse modo é evidência de fé rasa, de má compreensão de quem é o Senhor e de disfarçada revolta contra sua vontade soberana.

(Continua)

Pr. Marcos Granconato
Em A prática da igreja de Deus, p. 90-93.
Soli Deo gloria

sexta-feira, 20 de maio de 2011

O Chamado de Deus

Em 1Tessalonicenses 5.24 temos a informação de que o chamado vem de Deus. Mas, o que significa esse chamado? Para que Deus nos chamou?

Na mesma carta, em 2.12, lemos que fomos chamados para o seu reino e glória. Assim, se você foi chamado para viver no reino de Deus, foi ele quem o capacitou; foi ele quem lhe colocou no caminho que ele mesmo estabeleceu. Só podemos ir até Deus se ele nos chamar e conduzir conforme o seu meio que é o sangue do libertador, seu Filho unigênito, nosso Senhor Jesus Cristo. Somente a obra de Cristo é suficiente para nos justificar (Rm 8.30).

O chamado de Deus é também um chamado para a vida. Por isso, quando você ler o verbo “chamar” ou o substantivo “chamado” no Novo Testamento, lembre-se de que o termo aponta, muitas vezes, para o privilégio de sair de um estado de trevas e morte e vir para a luz. 

Um exemplo claro se encontra no chamado de Jesus a Lázaro, quando o ressuscitou da morte. Jesus ordenou que abrissem o sepulcro e chamou: “Lázaro, vem para fora!“. Naquele momento, tal chamado pareceu sensato? Ora, a ordem só pareceria sensata se Lázaro estivesse vivo. Assim, Jesus teve de restaurar todo o vigor do corpo e prover a revitalização de todas as células. O sangue de Lázaro tornou a correr em suas veias, sendo bombeado pelo coração que voltou a bater sob o comando do cérebro restaurado. Lázaro, enfim, voltou a ser um homem vivo e, sendo agora capaz de ouvir, atendeu e saiu do túmulo!

Isso ilustra o significado do chamado de Deus. Vê-se aí que só ele pode chamar “eficazmente”. E Deus não chama assim sem antes transformar. Se não for desse modo, o chamado será sempre sem resposta. Uma vez que Deus é sábio e não louco, é assim que ele garante que seu chamado tenha resposta positiva.

Para que Deus nos chamou? A resposta está em textos como 1Tessalonicenses 2.12; 2Tessalonicenses 2.14; 1Pedro 5.10 e 2Pedro 1.3. Esses versículos ensinam, entre outras coisas, que ele nos chamou para a sua eterna glória. Como entender essa glória? Leia João 17.22. Aqui temos doutrinas profundas. Afinal, quando o Deus Filho dialoga com o Deus Pai, o que colhemos disso? Só doutrinas maravilhosas e eternas!

Jesus diz, no texto de João, que ele nos deu a glória que o Pai havia lhe dado. Creio que o Senhor não fala aqui da sua glória eterna, pois ele a compartilha com o Pai desde a eternidade. A glória a que se refere aqui, porém, é dada a ele pelo Pai. De que consiste essa glória? Creio firmemente que se trata da relação especial com Deus que se torna nossa pela ação especial do Espírito Santo.

No jardim do Éden, Adão tinha um relacionamento perfeito com Deus e isso era uma glória. Porém, Adão podia pecar como, de fato, pecou e estragou tudo. Assim, a glória de um relacionamento perfeito com Deus se foi. Quando Jesus encarnou, ele se tornou o segundo Adão. Acredito que o relacionamento especial que Jesus encarnado teve com o Pai foi uma glória de que ele não havia ainda desfrutado, posto que nunca antes provara essa condição. Foi para essa glória que fomos chamados: a glória de um relacionamento especial com Deus pela ação do Espírito Santo. Sim, pois o relacionamento com o Pai é intermediado pelo Espírito Santo que habita em nós graças à obra realizada pelo Filho. Esse relacionamento com Deus é basicamente a adoração em espírito e em verdade.

Queridos, o chamado é de Deus! Ele é fiel e sua ação fiel fará a obra graciosa de santificação em nós. Se você foi chamado, então pode experimentar a santidade desde agora e também na eternidade.

Pr. Carlos Nagaoka
IBR Japão
Soli Deo gloria