sexta-feira, 29 de outubro de 2010

O Batismo Infantil (Parte 1)

A prática do batismo infantil foi adotada muito cedo pela igreja cristã. De fato, já no século 2 há evidências de que os cristãos batizavam seus bebês, uma vez que criam no batismo como uma forma de remissão de pecados e capaz de garantir a salvação das vítimas de morte prematura.

É verdade que Tertuliano de Cartago († c. 220) se insurgiu contra essa prática. Porém, ele o fez porque entendia que o arrependimento para perdão de pecados mortais só poderia ocorrer uma vez depois do batismo. Segundo Tertuliano, esse fato deixava os que eram batizados muito cedo em situação perigosa, sujeitos a perder, irremediavelmente e para sempre, o favor de Deus na fase adulta. Para ele, esse era o motivo pelo qual o batismo devia ser protelado até que a pessoa se sentisse mais distante do perigo de cometer pecados mortais como o adultério, o assassinato ou a apostasia.

Se, por um lado, há ampla evidência histórica para o pedobatismo, de outro, não há nenhum fundamento bíblico para essa prática. A despeito disso, os defensores do batismo infantil apresentam alguns argumentos em sua defesa.

O primeiro desses argumentos (e talvez o mais popular) é construído a partir da história narrada em Atos 16.27-34, referente à conversão do carcereiro de Filipos e seus familiares. Segundo o texto, depois que ouviram a Palavra do Senhor, o carcereiro foi batizado, ele e todos os da sua casa (At 16.33). No entender dos pedobatistas, certamente havia crianças bem pequenas naquela família, sendo todas incluídas no batismo realizado naquela ocasião. É difícil, porém, levar esse argumento a sério, posto que se sustenta unicamente sobre o frágil alicerce da  imaginação e da criatividade dos seus proponentes. Para desmantelá-lo, basta lembrar o fato óbvio de que nem todas as famílias têm bebês em casa.

A defesa do batismo infantil tem, na verdade, colunas de apoio muito mais sólidas do que o argumento exposto acima. Seus proponentes mais capazes expõem razões que merecem consideração séria e análise mais bem elaborada.

É o caso do argumento relativo ao Pacto. Os pedobatistas entendem que, assim como os bebês dos israelitas eram circuncidados pelo fato de seus pais pertencerem ao Pacto entre Deus e a nação judaica (Gn 17.10-14), da mesma forma os bebês dos crentes devem ser batizados, uma vez que seus pais, desde o dia em que se converteram, tornaram-se participantes do mesmo Pacto por meio da fé em Cristo (Gl 3.7,29). Essa concepção ainda admite expressamente que os filhos de quem participa do Pacto também pertencem ao Pacto, estando aí a razão principal para que se sujeitem ao símbolo do Pacto. Ora, no passado, o símbolo do Pacto foi a circuncisão, mas, como ela foi anulada (Gl 5.2,6; 6.15), o batismo a substituiu. Assim, de acordo com essa visão, o batismo infantil é o correspondente cristão da circuncisão judaica.

Essa conexão entre circuncisão e batismo é defendida especialmente com base em Colossenses 2.11-12. Nesse texto, dizem, circuncisão e batismo estão ligados, ambos representando o fim da velha vida de pecado, havendo, assim, forte associação entre os dois ritos. Em seu desdobramento final, toda essa argumentação afirma o seguinte: se Paulo iguala a circuncisão e ao batismo e se o primeiro era aplicado aos bebês, nenhum absurdo há em aplicar também o batismo aos recém-nascidos.

Outro intrigante argumento em prol do batismo infantil é baseado em Romanos 4.11. Esse argumento é construído assim: Em Romanos 4.11, Paulo define a circuncisão como “selo da justiça da fé”. Ora, no Velho Testamento, Deus ordenou que esse “selo da justiça da fé” fosse aplicado a bebês que não tinham fé (Lv 12.3). Logo, não é errado gravar com um selo de fé as crianças que ainda não creem. Condenar essa prática seria reprovar o que o próprio Deus ordenou! Assim, considerando que o batismo também é um selo de fé, nada há de errado em aplicá-lo ao bebê que ainda não crê. Se o próprio Deus mandou que isso fosse feito, quem somos nós para dizer que é preciso crer antes de receber o selo da fé?

Se tudo isso é correto, por que os batistas e outros evangélicos não batizam bebês? As razões disso serão expostas na próxima parte deste artigo.

Pr. Marcos Granconato
Soli Deo gloria

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