
Assim, se uma pessoa nunca toma a iniciativa de orar diante de dificuldades e até mesmo de tarefas corriqueiras ou se, a pedido de alguém, ora mecanicamente, percebe-se não se tratar de alguém muito dado a buscar o Senhor, seja em oração, seja pela leitura das Escrituras, seja pela meditação e contrição pessoal. Se alguém ora reivindicando bênçãos ou rejeitando dificuldades, tal pessoa tem dificuldades em se submeter à vontade e às orientações de Deus e costuma criar seu próprio modo de segui-lo. Se alguém tem por hábito orar antes de cada coisa que vai fazer, mesmo que sejam em momentos corriqueiros, surge diante dos olhos uma pessoa que entende que Deus é soberano e que sabe que os cristãos são inteiramente dependentes dele.
Nesse aspecto, há um tipo de pessoa que me intriga. É aquele que ora a Deus pedindo que cuide de certa situação, que faça sua boa vontade e que seja presente em cada detalhe. Contudo, apesar da correta oração, passa imediatamente a atuar como se não tivesse orado e como se Deus nada fosse fazer no sentido de atender a oração. A pessoa pede ajuda de Deus e, em um instante, nega a ajuda que pediu tomando a frente, ela mesma, da solução dos problemas.
Sob esse aspecto, Davi dá um bom exemplo para os discípulos do Senhor. Basta notar as condições do seu dia a dia expressas no Salmo 5. Ele enaltece, diante de Deus, os justos (v.12) e os que confiam e amam o Senhor (v.11), justamente porque eram as pessoas que ele tinha em menor número ao seu lado. É provável que os vv.4-6 demonstrem as características das pessoas que causavam problemas e riscos para o rei de Israel. São pessoas iníquas (v.4), arrogantes (v.5), enganadoras e violentas (v.6). Gente assim causa sofrimento a todos quantos estão ao seu redor.
Sabendo da presença e do risco que os inimigos representavam, Davi fez o correto: buscou a Deus em oração. Entretanto, dizer isso é tratar o assunto vagamente, visto que, em oração, podem-se fazer e falar muitas coisas, inclusive contraditórias. Temos visto, por exemplo, pessoas que oram repreendendo os males como se neles mesmos estivesse o poder para tanto; pessoas que ordenam bênçãos espirituais como se Deus fosse seu servo pessoal; pessoas que dizem para Deus que não aceitam algum mal que os acometa; e pessoas que, por incrível que pareça, oram perdoando o Senhor por ter-lhes infligido alguma provação.
Davi não orou assim, mesmo que estivesse preocupado com a violência e a maldade dos seus inimigos. Na verdade, ele teve três atitudes necessárias à oração baseada no ensino bíblico. Em primeiro lugar, ele clama a Deus por ajuda (v.1). O rei de Israel não repreendeu o problema, nem colocou Deus na parede, nem tampouco perdoou o Senhor por permitir a presença de inimigos. Davi, simplesmente, foi a Deus e fez uma petição pela solução do sofrimento. Com o coração compungido, ele diz “ouça as minhas palavras, ó Senhor, considera o meu gemido” (’amaray ha’azînâ yehwâ bînâ hagîgî). É como se dissesse: “Senhor, veja como estou sofrendo e me ajude”.
Em segundo lugar, Davi sabe seu lugar diante de Deus (v.2). Ele, o rei de Israel, se dirige ao Senhor e o chama de “Rei”. Na verdade, Davi diz “meu Rei e meu Deus” (malkî we’lohay). Ele não se sente apenas como o grande rei cheio de súditos, mas sabe que também é um súdito – súdito de Deus. O orgulho que costuma, infelizmente, acompanhar um cargo como o seu, não nubla a visão de que há alguém que reina sobre ele. Isso faz com que ele não busque seus direitos ou seus próprios recursos na solução do sofrimento. Ele, antes, busca o Rei exatamente com a mesma humildade e dependência que os seus súditos o buscavam.
Finalmente, em terceiro lugar, ele espera pela atuação de Deus (v.3). Depois de orar a Deus, Davi conclui com uma observação no mínimo intrigante. Quando a primeira reação que imaginamos que alguém em problemas teria, a saber, iniciar rapidamente algumas ações no sentido de dar fim ao mal, o rei de Israel leva em conta que expôs sua angústia ao Deus Todo-Poderoso e confia na sua sábia resposta. Depois de abrir seu coração a Deus, Davi diz: “E eu aguardo” (wa’atsapeh). Uma outra tradução possível seria “e fico observando”. Na verdade, essa palavra demonstra que Davi confiava tanto no poder, na sabedoria e no amor de Deus que, depois de orar, ele, realmente esperava pela resposta, qualquer que fosse. Isso não significa deixar de fazer o que é de sua responsabilidade, mas deixar de fazer o que não é, além de se abster de atitudes erradas por uma “boa causa”. Apesar de ser rei, Davi esperava como um servo que seu Senhor – e nosso – agisse.
Que exemplo a ser seguido por todos nós! Afinal, homens iníquos, arrogantes, enganadores e violentos cercam quase todos os cristãos. Que esse seja o incentivo e o exemplo para deixarmos de tomar caminhos tortuosos a fim de fazer o que é da alçada do Deus eterno e nos dediquemos, cada vez mais, à oração! Mas não uma oração qualquer. A oração e as atitudes dignas daquilo que Deus nos ensinou nas Escrituras.
Pr. Thomas Tronco
Hoje há uma contradição com respeito a oração. Diz-se que se ora muito, mas na verdade não vemos na prática os efeitos de uma vida de oração. Muitos dos que se dizem que oram beiram a arrogância em seu comportamento achando-se gurus espirituais. Particularmente não gosto quando a pessoa diz que chamou outra pessoa para orar por ela. Cade a intimidade com Deus em oração? O pastor foi muito feliz na sua mensagem sobre oração. Que Deus o abençoe.
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