Todas as pessoas que me conhecem ou leem os textos que escrevo sabem do meu inconformismo com os desvios que os evangélicos praticam. Realmente sou um crente indignado. E persevero na minha indignação. Aliás, como poderia deixar de ser assim? Para onde quer a gente se volte só se veem atrocidades sendo feitas em nome de Jesus por pessoas que dizem ser crentes!
Recentemente, assisti a dois vídeos que excitaram ainda mais a chama da minha zanga. No primeiro, um golpista que se apresentava como pastor fazia adivinhações sobre a vida pessoal de alguns membros do seu auditório. Ele “revelava” o nome completo das vítimas, a data e local do seu nascimento, além dos nomes de alguns familiares. Depois de fazer isso acrescentava uma “mensagem de Deus” para a vida daquela pessoa, afirmando que ela teria vitórias, seria usada na obra do Senhor e blá-blá-blá. Quando ele não tinha muito que dizer, começava a falar em línguas, algo mais ou menos assim: Saramantcho serranaga balassuia. Entendeu?
Os coitados sobre quem o pastor fazia essas adivinhações rompiam em prantos, dando glórias a Deus, cheios de alegria e emoção. Era lindo, até descobrirem que todas as “revelações” do pastor vinham do Orkut, um site de relacionamentos em que é possível obter, com um simples clique, dezenas de informações sobre qualquer pessoa inscrita nessa rede.
O segundo vídeo a que assisti mostrava um batismo realizado numa dessas igrejas moderninhas que de vez em quando aparecem por aí sugerindo ingenuamente que compõem a vanguarda do evangelicalismo e alegando que são donos de uma mente aberta, prontas a adotar linguagem e métodos heterodoxos, do tipo que os crentes quadradões jamais aceitariam. Apesar de esse discurso já ter-se tornado velho, repetitivo e monótono, ainda existem “igrejecas” que baseiam nele suas práticas estapafúrdias. Tudo bem... O que quero destacar é outra coisa. Quero destacar o batismo que o vídeo mostrava. Nele, os candidatos se posicionavam no alto de um toboágua e, depois que o “pastor” dava a voz de comando, o grupo descia escorregando e gritando (Uhuuu!) até cair na piscina lá embaixo.
Confesso que nunca vi uma banalização tão grande da santa ordenança de Jesus. Sem querer exagerar, creio que nem mesmo os satanistas, em suas constantes tentativas de ultrajar o cristianismo, foram capazes de tamanha afronta! Impressionou-me não só a vulgarização do batismo, mas o grau de ignorância doutrinária dos líderes daquela igreja, responsáveis por uma prática tão irreverente. Ao que tudo indica, eles não sabem nada sobre a “doutrina de batismos” de que fala o autor de Hebreus (Hb 6.2), sendo incapazes de definir esse rito, seus requisitos e significado. E o problema vai além, pois, se os professores são ignorantes, que conhecimento pode-se esperar dos alunos? Se o mestre relincha e zurra, que som os discípulos emitirão?
Coisas desse tipo têm se multiplicado por aí prejudicando a apresentação do evangelho verdadeiro. Sim, pois o povo sem Deus, acostumado com tanta estupidez, acaba acreditando que o cristianismo é assim, esse emaranhado de mentiras e loucuras que nossos olhos se habituaram a ver.
Um amigo meu, crente sério da Igreja Batista da Graça, em São José dos Campos (SP), ilustra bem essa situação. Ele conta que, quando era criança, gostava de beber suco de cereja artificial (aqueles sucos em pó) nas festas de aniversário dos amiguinhos. Mais tarde, já crescido, viu cereja de verdade no mercado e comprou uma caixinha pra reviver o gostinho dos antigos aniversários. Quando, porém, provou a primeira fruta, sentenciou: “Isso não é cereja!” Ele estava tão acostumado com o gosto da cereja falsa que, quando provou a verdadeira, pensou que tinha sido vítima de uma fraude! Meu amigo diz que o mesmo tem acontecido com as pessoas que vivem provando o cristianismo artificial dos picaretas e dos toboáguas. Quando, afinal, elas têm contato com a mensagem pura de Jesus ou com uma igreja verdadeiramente bíblica, vão logo fazendo careta e dizem: “Isso não é cristianismo”.
Meu amigo está certo. E eu aproveito a ilustração dele para suplicar a Deus que, no novo ano que se inicia, ele continue a preservar o gosto refinado do seu povo pelo genuíno leite espiritual (1Pe 2.2), sem se deixar atrair pelo sabor artificial do evangelho aguado e cheio de corantes que pregam por aí. Sim, pois em matéria de fé, é preciso se alimentar somente da cerejeira que o próprio Deus plantou e não do pozinho barato que os enganadores vendem no vasto mercado das crendices populares.
Pr. Marcos Granconato
Soli Deo gloria
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