“Deste aos meus dias o comprimento de um palmo; a duração da minha vida é nada diante de ti. De fato, o homem não passa de um sopro” (Sl 39.5).
Não há nada em nossa vida que não esteja intimamente relacionado com o tempo. Se somos ágeis ou lerdos, se estamos adiantados ou atrasados, se nos locomovemos ou se simplesmente pensamos, o tempo ainda é o “pano de fundo” de tudo que nos cerca. Mas, afinal, o que é o tempo?
Vejamos dois pensamentos a respeito do conceito de tempo:
“Se não me perguntarem, eu sei o que é. Se tiver de explicar para alguém, não sei. O problema é que o passado não está mais aqui, o futuro ainda não chegou e o presente voa tão rápido que parece não ter extensão alguma. Aliás, se o presente só surge para virar passado, não daria para dizer que o tempo é uma caminhada rumo à não-existência?” (Agostinho de Hipona – 354-430).
“Uma ilusão. A distinção entre passado, presente e futuro não passa de uma firme e persistente ilusão” (Albert Einstein – 1879-1955).
A primeira explicação pertence a Agostinho de Hipona, um filósofo cristão. A segunda é do primeiro físico teórico pop do mundo, Albert Einstein. Apesar de Agostinho ter abraçado a fé cristã, contrariamente ao que optou Albert Einstein, ambos expressam perplexidade sobre o conceito de tempo por ângulos diferentes.
Nota-se, por exemplo, que o atributo “absoluto” não pode ser concedido ao tempo e que essa privação confere relatividade a tudo que nos cerca.
Davi, rei de Israel “segundo o coração de Deus”, inspirado pelo Espírito Santo, descreveu a perplexidade do tempo sob a óptica de sua própria longevidade. Aproximadamente. 1.400 anos antes de Agostinho de Hipona e 2.900 anos antes de Albert Einstein, o rei Davi escreveu o Salmo 39 do qual foi retirada a epígrafe deste artigo. Nesse versículo, vemos porque o pretenso atributo “absoluto” do tempo se esmigalha. “Absoluto” é um atributo inerente a Deus, o autor do tempo e da vida. Logo, todos os conceitos expressos por Davi se relativizam sob o Deus absoluto e infinito, pois a criação (tempo) não pode conter o Criador (Deus).
Davi teve vida longa segundo os padrões pós-diluvianos de sua época: setenta anos. A título de comparação, a expectativa média de vida no Brasil, 3 mil anos depois, é de 72,8 anos. Logo, considerando os parâmetros atuais da expectativa de vida, Davi alcançou boa longevidade. Entretanto, “curiosamente”, Davi diz que seus “dias” de vida são como um “palmo” e um “sopro” diante de Deus.
Ele realça, de forma poética, a pequenez do período de setenta anos diante de Deus. Para entendermos porque um palmo é uma ilustração de pequenez, imagine-se medindo um pequeno terreno com suas mãos. Você perceberá que sua paciência é menor do que imaginava. Ademais, o que é um sopro? Por meio de um aparelho chamado espirômetro, nota-se que o ser humano normal, quando é solicitado a soprar forçosamente, é capaz de expirar 97% da “capacidade vital” (quantidade de ar que há nos pulmões que se pode expirar) em aproximadamente três segundos. Enfim, três segundos parecem ser muito pouco tempo para se correlacionar com setenta anos!
Estaria Davi sendo ingrato por seus setenta anos? Com certeza, não! Ao iniciar o seu texto, ele assegura a santidade das palavras que se seguem: “Vigiarei a minha conduta e não pecarei em palavras” (Sl 39.1a). E, corroborando a defesa de que Davi não é ingrato, “setenta anos se transformaram em três segundos” porque Davi se comparou ao Deus eterno. Em verdade, é até impróprio dizer que a vida de Davi é de “três segundos”, pois ele mesmo diz que sua vida é “nada” diante de Deus. Ou seja, infinitamente menos em relação aos três segundos.
Para darmos mais corpo à “relatividade” de Davi, que transformou setenta anos em três segundos, qual a duração mínima do tempo para que percebamos setenta anos como três segundos? Com o auxílio da proporção matemática, chega-se ao valor de, aproximadamente, 54 bilhões de anos. Ou seja, setenta anos em 54 bilhões de anos têm a mesma proporção que três segundos em setenta anos.
Logo, mesmo que um cristão vivesse setenta anos de ininterrupta agonia e sofrimento, isso equivaleria, no mínimo, a 54 bilhões de anos de perfeito, infinito e inefável regozijo com Deus! Todavia, sabemos que àqueles que receberam o Filho de Deus, Jesus Cristo, foi-lhes dada a honra de viverem eternamente com Deus. Logo, se utilizarmos o limite ao infinito em nossos cálculos, nossa vida terrena é igual a zero diante de Deus! Daí vem o “nada” dito por Davi.
Mas há ainda um aspecto interessante em relação ao “palmo” e ao “sopro”. Quando o mesmo “palmo” e o “sopro” provêm do “absoluto” (Deus) os resultados não denotam pequenez, mas infinita glória! Em humilhação santa que a Palavra de Deus pode nos proporcionar, a “palma” da mão Deus é usada para medir um universo estimado em mais de 150 bilhões de anos-luz de diâmetro: “Quem mediu as águas na concha da mão, ou com o palmo definiu os limites dos céus?” (Is 40.12a). E, em relação ao “sopro”, temos a magnífica criação da humanidade: “Então, o Senhor Deus formou o homem do pó da terra e soprou em suas narinas o fôlego de vida, e o homem se tornou um ser vivente” (Gn 2.7).
Talvez você quebre um dos recordes de longevidade pós-diluviana de que se têm notícia: 175 anos (Abraão). Mas, serão anos difíceis, cheios de sofrimento e rápidos: “Os anos de nossa vida chegam a setenta, ou a oitenta para os que têm mais vigor; entretanto, são anos difíceis e cheios de sofrimento, pois a vida passa depressa, e nós voamos!” (Sl 90.10).
É imprescindível, para termos uma vida serena, a constante consciência daquilo que nos espera: a vida eterna com Deus! Uma vida em que o tempo não se aplica, pois os ponteiros do relógio do paraíso não existem! Uma vida em que nos está reservada a função de reinar com Cristo, servir e louvar a Deus com constante alegria. Quando você olhar para esse imaginário relógio celestial, você constatará: “Essa minha alegria não tem hora para acabar!”
Diz o Salmo: “Ensina-nos a contar os nossos dias para que o nosso coração alcance sabedoria” (Sl 90.12). Esse versículo fala sobre a importância de contarmos os dias em que nos encontramos em comunhão e obediência a Deus. Todavia, é necessário expandir e enfatizar a sua aplicação para os dias difíceis e de sofrimento que estão no mesmo salmo. Crente, “faça as contas” dos dias difíceis e de sofrimento que vem tendo. O resultado será “séculos dos séculos” de regozijo no paraíso com Deus.
Crente, una-se ao apóstolo Paulo e ore com convicção: “Por isso não desanimamos. Embora exteriormente estejamos a desgastar-nos, interiormente estamos sendo renovados dia após dia, pois os nossos sofrimentos leves e momentâneos estão produzindo para nós uma glória eterna que pesa mais do que todos eles. Assim, fixamos os olhos, não naquilo que se vê, mas no que não se vê, pois o que se vê é transitório, mas o que não se vê é eterno” (2Co 4.16-18).
Leandro Boer
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