Sou um grande fã de filmes. Meus preferidos são filmes de aventura, de ação, de preferência se forem baseados em fatos reais. Alguns filmes marcam pela emoção que causam nas pessoas e, em mim, mais ainda. Um dos momentos mais emocionantes dos filmes é quando o mocinho está para ser pego e, em cima da hora, surge alguém ou algo que o livra quando tudo parecia perdido. Alguns exemplos nesse sentido que me vêem à mente são a cena onde Blondie (Clint Eastwood) atira na corda da forca do seu comparsa dependurado pelo pescoço em “O bom, o mau e o feio” e a cena da primeira luta travada em “Gladiador”, quando Maximus (Russell Crowe - foto), general do império, quase sucumbe diante do inimigo até que um cavaleiro romano, que passa rapidamente pela cena, desfere um golpe mortal no adversário.
Resumindo, em quase todos os filmes de ação o herói se safa no último momento. Essa é “quase” uma certeza matemática para os cinéfilos. Entretanto, na vida real não é tão certo que os heróis sejam salvos em cima da hora. Muitas vezes eles são pegos, são maltratados e até são mortos. Quando um perigo da vida real acerca alguém, não sabemos se todos serão “felizes para sempre” ao final de tudo. Muitas vezes os homens esperam um livramento, mesmo que no último momento, e ele não vem.
É nessa circunstância em que encontramos o rei Davi ao escrever o Salmo 13. Na verdade, esse salmo é uma oração a Deus em um momento de angústia. Talvez, mais do que isso. Esse salmo é um modelo de reação dos servos de Deus em momentos de angústia, quando o socorro perece demorar a vir. É um movimento crescente das emoções e reações que levam o servo de Deus do “vale da sombra da morte” (expressão usada por Davi no Salmo 23) até a “sombra do Onipotente” (expressão utilizada pelo escritor do Salmo 91).
Nessa jornada, Davi passa por três fazes. A primeira delas é a angústia, sentimento perceptível nos dois primeiros versículos do Salmo 13. Nesse trecho, Davi pergunta quatro vezes “até quando?” (‘ad-’anâ), ou “por quanto tempo?”, se dirigindo ao Senhor. Trata-se de uma pergunta feita por alguém que parece ter chagado em seu limite. Ele aguentou o quanto podia e quer saber quanto mais terá de suportar sem ter forças para tanto. Tais palavras refletem o desespero de quem não sabe se conseguirá se manter em pé diante da aflição. Ele olha para Deus e pergunta: “Por quanto mais tempo o Senhor me deixará nessa situação?”.
Davi pergunta até quando o Senhor “se esquecerá” dele e “ocultará seu rosto” (v.1). O contexto demonstra que Davi, ao se referir desse modo, não crê, de fato, que o Senhor o tenha abandonado, mas que ele está retardando sua atuação. É como se tivesse se esquecido de Davi e como se, desprezando-o, tivesse lhe virado o rosto como que zangado. O interesse de Davi não é saber por que o Senhor não o ama mais, mas até quando retardará sua libertação. Davi expõe diante de Deus, no v.2, a consequência dessa aparente demora perguntando ate quando ele lutará contra o que ele chama de “lamento diário no meu coração” (yagôn bilvavî yômam). Termina perguntando por quanto tempo seus inimigos “se levantarão” (yarûm ’oyevî ‘alay) ou “serão exaltados” sobre ele. Perguntas que, mais que o desejo de encontrar respostas, servem para expor sentimentos de angústia pela situação difícil.
Muita gente se perde nessa fase. O desespero as vence e elas caem em profunda depressão ou tomam atitudes mais destrutivas que benéficas, tanto para elas como para os outros. Mas Davi, nosso exemplo de servo que passa por problemas que não se resolvem, exibe mais uma atitude exemplar: a oração. Davi apresenta ao Senhor, nos vv.3,4, três pedidos. Os dois primeiros são: “olhe, por favor, e responda a mim” (havvîtah ‘anenî), desejando ser alvo da atenção especial do Senhor e ter sua oração atendida. Davi não pensa que Deus não o vê, mas deseja que o Senhor se compadeça dele na situação em que está e, diante da sua oração, atue agora, não com silêncio, mas com ação. Ele também pede “traga luz sobre mim, por favor” (há’îrâ ‘ênay). Trata-se de um pedido de solução para as trevas em que se encontra; um clamor pela atuação de Deus livrando-o daquilo que o oprime que, no caso, para que ele não seja morto pelos inimigos e para ele eles não sejam vitoriosos (vv.3b,4). “Olhe”, “responda” e “traga luz” são os pedidos que revelam um servo que leva a Deus seus problemas por meio da oração sabendo que somente ele pode responder os pedidos dos fiéis e dar fim à sua angústia.
Finalmente, a última fase da jornada de Davi é o descanso em Deus (vv.5,6). Três verbos expõem as ações de Davi, mesmo diante da circunstância desfavorável e persistente, no sentido de entregar completamente, não apenas o problema, mas também suas reações aos cuidados Senhor soberano e amoroso. Davi diz: “Eu, porém, confio na tua lealdade” (wa’anî behasdeka batahtî). Na verdade, é preciso uma explicação maior que a palavra “lealdade” para descrever o objeto da confiança de Davi. Ele confiava que as palavras de Deus eram verdadeiras e que ele cumpriria o que prometeu, não importasse quão complicadas fossem as circunstâncias, não apenas por que vinham de uma boca que só diz a verdade e de mãos honradas que não quebram um compromisso assumido, mas também de um coração amoroso, benigno e compassivo. Davi continua dizendo “meu coração se alegra na tua salvação” (yagel luvvî bîshû‘ateka). O objeto da alegria e da exultação de Davi, a “salvação” (yeshû‘â), é a ação libertadora identificada pelo próprio nome do “salvador” Jesus. Como resultado de tal exultação, Davi diz a si mesmo “cante eu ao Senhor” (’ashîrâ layhwâ). O motivo do louvor a Deus é surpreendente. No meio da situação difícil em que se encontrava, Davi vê o Senhor agindo no sentido de tratar-lhe bem.
Resumindo, a jornada de Davi o leva do desespero à oração e da oração ao descanso. O que parece impossível em um primeiro momento, é exemplificado diante de todos os servos de Deus como modelo de esperança e de dependência do Deus altíssimo. A oração, a confiança, a observação e a lembrança daquilo que Deus fez e faz na vida dos seus servos é um remédio contra a depressão mais poderoso do que queiram quaisquer indústrias farmacêuticas. Não se trata de autoajuda, mas da busca daquele que é soberano sobre o universo e amoroso para com os seus. O “eu, porém” de Davi no início do v.5 demonstra o conhecimento pessoal de rei sobre o quanto os acontecimentos são fracos e reversíveis nas mãos daquele cuja vontade nunca pode ser frustrada (Jó 42.2; Ef 1.11).
O cinema quase sempre mostra o mocinho se dando bem no último momento. Mas em um conceito estreito de “se dar bem”. Para tanto, ou ele “se dá bem” vendo a situação desesperadora ser revertida no último momento, ou “se dando mal” e isso reverter para o bem alheio, o que, no cinema, ainda faz um final feliz. Contudo, a vida do servo de Deus prevê um “bem” que vai além de todas as situações. Independente do final, o crente deve sempre manter seus olhos naquele que faz todas as coisas contribuírem para o benefício dos seus (Rm 8.28), mesmo quando os propósitos de Deus para eles são misteriosos.
Portanto, acima de tudo, a “certeza matemática” dos que creram em Cristo é: “minha história, agora ou no futuro, terá o maior dos finais felizes”. A esperança da vida presente dos cristãos é: “Nós, sim, seremos felizes para sempre”!
Pr. Thomas Tronco
Nenhum comentário:
Postar um comentário