Ouvi, algum tempo atrás, alguém me contar o conteúdo da conversa entre dois rapazes. Um deles disse ao amigo: “Minha igreja é o máximo! Como eu me sinto bem lá! Não há nada que me entristeça ou desaponte. Quando estou lá, é como se o mundo e a vida fossem perfeitos. Parece que estou no céu”.
O amigo ouviu esse relato e, após alguns segundos de silêncio em uma atitude reflexiva, respondeu: “Eu também gosto da minha igreja. Amo estar com meus irmãos e participar de todos os cultos e programações. Mas quando canto sobre a glória e a santidade de Deus e quando ouço a pregação da Palavra, não consigo parar de pensar em quanto estou longe daquilo que eu deveria ser e em quanto ainda eu preciso crescer no caráter cristão. Em alguns momentos eu fico desapontado. Mas meu desapontamento é comigo mesmo e com o pecado que pratico. Sofro por causa dele. Às vezes, até choro arrependido. Porém, a esperança de um dia viver com Deus, livre de defeitos, é o que me encoraja a continuar servindo cada vez mais a Cristo e a buscar a santidade na minha vida. Quando estou na igreja, não me sinto no céu... eu desejo chegar logo no céu!”.
Quem me contou essa história, também me explicou que esse segundo jovem pertence a uma igreja séria que enfatiza o ensino bíblico. Já o primeiro rapaz pertence a uma dessas comunidades voltadas ao público jovem cuja ênfase está na música e em programações “legais”, enquanto as Escrituras são tratadas com superficialidade por “pastores” sem preparo teológico. Com tal explicação, tudo ficou mais claro.
Além da óbvia constatação de que a igreja que menospreza a Bíblia se desvia dos caminhos e dos propósitos do Senhor, outra coisa me deixou pensativo: “Como pensam os membros das igrejas bíblicas? Será que todos pensam como o segundo jovem?”. Temo que a resposta não seja tão encorajadora.
Enquanto muitos crentes permanecem tratáveis diante das Escrituras e do pastoreio dos seus líderes, uma nova “raça” está se cristalizando nas fileiras eclesiásticas. Trata-se de um grupo que trouxe para dentro da igreja o individualismo dos nossos dias, de modo a não terem, de fato, comunhão com o corpo de Cristo. Também carregam os princípios do “Código de Defesa do Consumidor” não cogitando qualquer dever que tenham como membros de uma igreja, mas apenas os direitos que têm e o modo como devem ser respeitados pelos outros. Para piorar, importam do mundo uma noção tosca de que a igreja deve adulá-los a fim de não perdê-los, como se fossem fregueses de uma grande loja.
Tudo isso é estranho ao ensino bíblico. A igreja, para o crente, deve ser alvo da sua mais carinhosa atenção e cuidado (2Co 11.28), das suas orações constantes (1Ts 3.10) e do seu mais sincero amor (Ef 1.15, Cl 1.4). O crente deve ter a nítida convicção de que, como noiva de Cristo, a igreja pertence ao Senhor e, por isso, há um modo definido de ela se comportar (1Tm 3.15) no qual ela se submete ao seu Senhor (Rm 7.4-6; Ef 5.24) para produzir glória ao seu nome (Ef 3.21). Apesar de características tão específicas e marcantes para o conjunto de crentes que chamamos de “corpo de Cristo” (Ef 1.22,23), à semelhança de um corpo humano, a igreja também é formada de partes individuais (Rm 12.4,5). Assim, falar sobre as características da igreja é o mesmo que falar sobre o papel e a responsabilidade de cada crente em si. A igreja é o que seus membros são. Para termos uma igreja verdadeira, sadia e bíblica, precisamos ser, cada um de nós, crentes verdadeiros, sadios e bíblicos.
Por fim, todos nós devemos nos fazer duas perguntas: “Que tipo de igreja é a minha?” e “que tipo de crente sou eu?”.
Pr. Thomas Tronco
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