quinta-feira, 24 de março de 2011

Calvinistas Evangelizam? (Parte 1)

Há um mito que circula no meio evangélico que diz que os calvinistas não se preocupam em fazer evangelismo pessoal ou missões. Segundo os expoentes dessa lenda, isso ocorre porque os calvinistas creem na doutrina da predestinação e, uma vez que, segundo sua visão dessa doutrina, Deus já tem os seus eleitos a quem fatalmente irá salvar, não há nenhuma necessidade de evangelizar as pessoas, nem mesmo de orar para que alguém se converta.

Realmente, a soteriologia calvinista defende com unhas e dentes a santa doutrina da predestinação. E isso por uma razão muito simples: poucas doutrinas bíblicas são tão claras como essa. De fato, mesmo representando um atentado contra a orgulhosa lógica humana (Rm 9.19-21), a Bíblia é pródiga em suas afirmações referentes à soberania absoluta de Deus na salvação, que alcança graciosamente quem quer e endurece a quem lhe apraz (Jo 1.13; Rm 8.29-30; 9.18; Ef 1.5). É somente por isso que os calvinistas não abrem mão desse ensino tão controvertido que os torna alvo de constantes acusações falsas.

A questão, então, permanece: essa aceitação da doutrina da predestinação não inibe o trabalho de evangelismo dos calvinistas? Surpreendentemente, a resposta é um enfático não. Aliás, é até o oposto o que acontece! Com efeito, tanto a Bíblia como a história do cristianismo mostram que a doutrina da predestinação tem se constituído num dos maiores incentivos à evangelização do mundo!

Considere-se, em primeiro lugar, o ensino bíblico. De que forma a Escritura destaca a eleição divina como um estímulo ao trabalho de pregação do evangelho? Basicamente, o texto sagrado faz isso de duas maneiras: afirmando que os eleitos de Deus estão espalhados pelas diversas comunidades ao redor do mundo; e ensinando que eles fatalmente atenderão à mensagem das Boas Novas em Cristo.

Jesus foi o primeiro a mostrar essas duas maravilhosas realidades. A certa altura do Evangelho de João, o evangelista conta que o Mestre fez uma intrigante afirmação: “Tenho outras ovelhas que não são deste aprisco [isto é, não são de Israel]. É necessário que eu as conduza também. Elas ouvirão a minha voz, e haverá um só rebanho e um só pastor” (Jo 10.16). Em seguida, para mostrar que havia grande distinção entre esse grupo espalhado pelo mundo e as demais pessoas não escolhidas, ele dirigiu-se aos seus oponentes dizendo: “... vocês não creem, porque não são minhas ovelhas” (Jo 10.26). O Senhor ensinou, assim, que ele tem um povo espalhado pelo mundo, que as pessoas que compõem esse povo ainda estão por ser alcançadas, e que elas fatalmente atenderão ao convite da fé. Como um evangelista pode ser desencorajado diante disso?

O Evangelho de João insiste nessas verdades também em seu Capítulo 11. Ali, o evangelista comenta algumas palavras pronunciadas pelo sumo sacerdote, dizendo: “Ele não disse isso de si mesmo, mas, sendo o sumo sacerdote naquele ano, profetizou que Jesus morreria pela nação judaica, e não somente por aquela nação, mas também pelos filhos de Deus que estão espalhados, para reuni-los num povo” (Jo 11.51-52). É mais do que claro aqui que Deus tem “filhos” dispersos pelo mundo. Esses “filhos” ouvirão a mensagem da cruz e serão, afinal, reunidos num povo.

Ora, com essas concepções em mente, seria possível um evangelista desanimar? É claro que não! Na verdade, sabendo disso, o missionário trabalhará ainda mais confiante, ciente de que as ovelhas de Jesus, os “filhos de Deus que estão espalhados”, cedo ou tarde, seguirão o Bom Pastor; sim, amanhã ou depois, serão reunidos pelo Pai. Além disso, o obreiro que aceita essas verdades não se sentirá fracassado ou frustrado no ministério quando não crerem na sua pregação. Antes, entenderá que os que a rejeitaram fizeram-no por não serem ovelhas do Senhor e seguirá avante, certo de que as ovelhas com certeza ouvirão e o alvo do Pai de reunir seus filhos num só povo será finalmente alcançado. Poderia haver estímulo maior para o trabalho evangelístico?

Na história de missões, quem primeiro se sentiu estimulado por essas verdades foi o apóstolo Paulo. Isso aconteceu quando ele esteve pregando em Corinto, um foco tenebroso da multiforme religião pagã, centro cosmopolita marcado por excessos de imoralidade e por todo tipo de devassidão. Corinto, talvez fosse, ao mesmo tempo, o maior desafio e o mais terrível pesadelo de qualquer missionário cristão; uma boa desculpa para o abandono do trabalho evangelístico.

Paulo esteve ali em cerca de 50 a.D., por ocasião da sua Segunda Viagem Missionária (At 18.1-18). Logo de início, sua presença e mensagem despertaram a oposição da comunidade judaica local que trabalhou intensamente para dificultar ainda mais a obra missionária em Corinto (At 18.6,12-13). Paulo, porém, não desistiu. Onde o apóstolo encontrou estímulo para continuar sua obra num ambiente tão difícil? A resposta é surpreendente: ele foi incentivado pela doutrina da eleição! O texto bíblico diz que, certa noite, o Senhor apareceu a Paulo numa visão e disse: “Não tenha medo, continue falando e não fique calado, pois estou com você, e ninguém vai lhe fazer mal ou feri-lo, porque tenho muita gente nesta cidade” (At 18.9-10).

Durante os dias do seu ministério terreno, o Senhor havia dito que tinha outras ovelhas que viviam em vários apriscos fora de Israel. Agora, o mesmo Senhor se manifesta a Paulo revelando que muitas dessas ovelhas estavam em Corinto. O apóstolo não devia, portanto, recuar. A realidade de que as ovelhas já estavam ali, somente esperando ouvir a voz do Supremo Pastor, devia incentivá-lo. Elas atenderiam a pregação e seriam salvas. Paulo ouviu isso tudo e permaneceu firme. Foi assim que a santa doutrina da eleição fez o apóstolo perseverar por mais um ano e seis meses no trabalho missionário em Corinto (1Co 18.11).

Cerca de dez anos mais tarde, Lucas escreveu essa e outras histórias de Paulo na obra que recebeu o título de Atos do Apóstolos. Foi, talvez, por perceber que a doutrina da eleição servia como estímulo para a evangelização que Lucas fez questão de frisar, justamente numa obra de história de missões, que os que acolhiam a pregação de Paulo eram somente os que faziam parte do rebanho de Cristo espalhado pelo mundo. “... E creram todos os que haviam sido designados para a vida eterna” (At 13.48), escreveu ele. Vê-se, assim, que o primeiro historiador da igreja aprendeu, por meio de suas pesquisas, que a eleição não somente estimula o trabalho do pregador, mas também garante o seu sucesso.

Conclui-se, assim, que, à luz da Bíblia, a doutrina da predestinação não desencoraja a obra missionária, fazendo exatamente o oposto. Deve-se, agora, observar como, em 2 mil anos de cristianismo, essa doutrina serviu como fonte de ânimo para os sucessivos propagadores da santa fé.

(Continua)

Pr. Marcos Granconato
Soli Deo gloria

4 comentários:

  1. A resposta para a pergunta no título da postagem é um sonoro SIM. Essa acusação é muito comum contra os calvinistas, mas demonstra não somente um desconhecimento do próprio calvinismo, mas também de história. Além disso, o calvinista possui duas enormes vantagens que não podem ser vista no arminianismo: soberania e a responsabilidade.
    O calvinista sabe que Deus é soberano e que todas as coisas acontecem dentro da vontade de Deus. Ele sabe que ele pode se lançar na obra de evangelismo e missões porque sabe que, quando isso estiver acontecendo, estará dentro da vontade de Deus. Ele não precisa ter medo. Esse entendimento sempre foi um grande motivador dos ondas missionárias, pela idéia de ter sido eleito para a glória de Deus e para pregar o evangelho. O calvinista sabe que o maior propósito do homem é glorificar a Deus. E Deus é grandemente glorificado quando Ele salva um pecador imundo, quando Ele regenera alguém que antes era seu inimigo e agora se torna seu filho. Um tremendo milagre!
    E o calvinista sabe que ele não tem poder nenhum de converter ninguém. Não é o evangelista quem converte o perdido. Não é uma questão de convencimento. O calvinista sabe que a sua responsabilidade é proclamar o reino de Deus. E o próprio Deus irá cuidar da salvação. Nós não sabemos quem são os eleitos e nem precisamos saber. Só precisamos proclamar o reino, proclamar o evangelho bíblico e Deus irá cuidar da conversão.
    Durante anos, antes de conhecer de verdade o que a Bíblia ensinava sobre isso, eu achava que tinha que me esforçar para levar o evangelizado a “fechar o negócio” a se “decidir por Cristo”. Hoje, eu sei qual é o meu papel. E o mais lindo de tudo isso, é que no final, a glória é toda de Deus.
    Tanto eu quanto minha esposa podemos afirmar que hoje somos mais levados ao evangelismo por entender a doutrina da eleição (e outras coisas) do que antes.
    Aguardamos curiosos para ler a segunda parte do texto.

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  2. Recentermente lí um artigo escrito por um pastor renomado no meio evangélico, e que em pleno hospital divulgou que não acredita muito milagres de cura, citando assim, aqueles doentes
    o qual algumas pessoas os denominam de: mongolói-des; dizia ele que as curas e milagres, só acon-teciam com aqueles que vão á igreja, ou são al-cançados nas grandes campanhas de curas e mila-gres... Mas, se formos analizar, e afirmar que não existem milagres nem curas, só pelo fato de alguns que no pensamento das pessoas, deveriam ser alcaçadas, pelas mesmas curas e milagres que alcançou a outros, não significa que não seja possível! O próprio Jesus, citou um provérbio, que usariam contra Ele, dizendo: médico cura-te a ti mesmo!... numa outra oportunidade ele citou que haviam vários leprosos na Síria, porém só quem recebeu a cura foi o leproso Naamã, e não foi pelo fato de só Naamã, ter sido curado e os outros não, a cura não tenha realmente aconteci-do... Da mesma forma podemos analisar a posição dos calvinistas,que não assumem uma posição de evangelizadores, porque se baseiam em textos que justificam sua inércia e descomprometimento com o reino de Deus, se o próprio Cristo, olhando do céu não viu um justo sequer, e veio a esse mundo justamente salvar os que se haviam perdido, ain-da após sua morte e ressurreição, mandou que seus discípulos fossem anunciar o evangelho a toda criatura,isso significa que: se não hou-vesse necessidade de evangelizar, e que já tenha os predestinados a salvação, e que todos os ho-mens já estão com seu futuro garantido cada segue o que bem entendem e no final sobraria só a escolha, pois com base nessa predestinação não há nenhuma necessidade de avisar que precisam chegar ao pleno conhecimento da verdade, e que Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu filho unigênito,para que todo àquele que nele crer não pereça, mas tenha vida eterna...o pró-prio Jessus não teria os enviados à proclamar a salvação, visto que, se já não havia necessidade de anunciar, ele apenas teria resuscitado, apare-cido aos díscipulos para confirmar que reviveu, se despedido, e voltaria para os céus sem nenhu-ma outra observação, mas a observação fundamen-tal de Cristo aos discípulos e a todos quanto o Senhor chamar foi uma ordem, e não um pedido
    "Ide portanto fazei discípulos de todas as nações... Ide pregai...
    Lamento pelos Calvinistas, e espero que Deus tenha misericórdia deles e os despertem enquanto há tempo... e que esses falsos ensinos venham ser ofuscados, e refutados constantemente...
    Um forte abraço!

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  3. Hehehehehehehehe.

    O anônimo que fez o comentário acima deve ter se confundido, pois o artigo fala exatamente das razões palas quais o calvinistas "evangelizam". Ou ele não leu o texto.

    Anônimo... leia com calma o texto e veja que o autor quis mostrar que o calvinistas evangelizam e as razoes pelas quais o fazem.

    Pr. Thomas

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  4. Realmente o anônimo não leu o artigo. Se tivesse lido aprenderia que os calvinistas evangelizam e também saberia porque eles agem assim.
    Granconato

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