sábado, 4 de setembro de 2010

'Mensagens Subliminares' em Desenhos Animados: Motivo de Preocupação para as Famílias Cristãs?

Deixar crianças assistir a desenhos animados, como os produzidos pela Walt Disney Pictures, pode persuadi-las a adotar comportamentos imorais ou até mesmo a tornar-se “adoradoras de Satanás” no futuro? Infelizmente, não faltarão pessoas para dizer que sim, principalmente no “oráculo pós-moderno” chamado Google.

Mas o que é, afinal, uma mensagem subliminar? Segundo a definição da literatura científica, a mensagem subliminar, que pode se apresentar em forma de palavra grafada ou verbal, ou em imagem, é qualquer informação que, após ser exposta ao ser humano, é captada pela mente sem atingir o limiar da consciência, ou seja, é percebida subconscientemente[1]. Um exemplo clássico foi a inserção de quadros com informações como "drink Coca-Cola" (beba Coca-Cola) em meio a uma sequência de filme em alta velocidade de quadros por segundo à projeção inferindo-se que a audiência captaria a mensagem sem conscientizar-se de que a leu. A hipótese levantada foi que, mesmo não tendo consciência do que se leu, a pessoa teria propensão a obedecer a mensagem. Os resultados, que deixaram a sociedade da década de 1950 perplexa, foram posteriormente desmentidos pelo próprio idealizador do projeto, James Vicary, que confessou tê-los fraudado[2]. Não é estranho imaginar que tal ideia pode deixar as pessoas temerosas, ansiosas ou até mesmo desesperadas. Também é notável como muitas ideias conhecidas como “teorias da conspiração” se aproveitam das mensagens subliminares com a finalidade de escravizar a sociedade pelo medo.

A grande preocupação que algumas pessoas têm - entre elas muitos cristãos - é que tais mensagens não só podem ser percebidas por suas crianças, mas as persuadem a simpatizar com símbolos e doutrinas satânicas. Será verdade?

Postula-se que mensagens subliminares podem ser percebidas pela mente humana, mas a informação não tem a propriedade de persuadí-la, em adultos saudáveis com estrutura psíquica devidamente estabelecida[1].

Mas, e quanto às crianças na mais tenra idade que ainda não têm sua estrutura psíquica devidamente estabelecida? Seria esse grupo vulnerável aos algozes das famigeradas teorias da conspiração? Seguramente, o que se pode dizer é que uma criança abandonada à intensa e sedutora programação infantil da mídia terá maior risco de tornar-se... obesa e sendentária[3]! Essa conclusão pode ser facilmente intuída ao se observar que as crianças trocaram suas atividades lúdicas aeróbicas, ou até mesmo intelectuais, como jogos de tabuleiro, por uma poltrona confortável, uma tela com desenhos animados e pacotes de biscoitos recheados.

Nota-se, curiosamente, em crianças que estão expostas a desenhos animados em programações infantis, um fenômeno justamente contrário ao que se ventila na internet: os desenhos animados promovem melhores atitudes raciais[4]. Enfim, as crianças tendem, além de aumentar seu conhecimento e imaginação, a aceitar amizades de diferentes etnias com maior facilidade comparativamente às crianças não expostas aos desenhos. Isso ocorre devido aos desenhos frequentemente enfatizarem a amizade na diversidade: e.g. vários tipos de animais que são amigos em uma floresta e que se unem contra um inimigo comum.

Entretanto, como ficariam os “preocupantes” desenhos “demonizantes” da Walt Disney Pictures? Uma pesquisa do Departamento de Psicologia da University of Calgary (Canadá) avaliou 34 filmes animados produzidos entre 1937 e 2001, bem como 41 desenhos animados da programação normal canadense (região de Calgary – Ontário). Em relação aos desenhos Disney, observou-se que 74% deles continham referências verbais “demonizantes” com média de 5,6 ocorrências por filme. Também se observou o número de personagens “demonizantes”: 34 (18%) dos 136 personagens principais eram “demonizados”, sem haver distinção na proporção de personagens “maus” do sexo masculino e feminino[5]. É importante ressaltar que essas informações sequer eram “subliminares”; eram, de fato, “liminares” à consciência, percebidas por qualquer um que assiste aos vídeos. E qual foi a conclusão dos autores?

Mais uma vez, a conclusão foi contrária ao que se esperava: as crianças não tendem à simpatia por personagens “demonizados”, mas adotam os personagens como referências do que é “mau” em suas vidas por meio de epítetos[5]. Enfim, a preocupação reside no fato de que as crianças, ao verem, por exemplo, uma vizinha idosa que maltrata crianças na rua, julgariam a ocorrência e diriam: “Papai, aquela vizinha deve ser uma ‘bruxa malvada’! Eu não gosto dela!”.

Dessa forma, pode-se concluir que não há perigo de uma criança tornar-se “adoradora de Satanás” assistindo a desenhos animados da Disney? Aí está a verdadeira armadilha de Satanás! E, para desarmá-la, a ciência é ineficaz, pois apenas a (suficiente) Palavra de Deus pode nos ajudar a corrigir o nosso próprio caminho e os das crianças, além de nos resguardar das ciladas do “pai da mentira”. O problema reside na negligência com o conhecimento bíblico a respeito dos seguintes temas:

a) A criança é pecadora e, como todo pecador, a sua carne a inclinará naturalmente para o pecado, com ou sem a atuação de Satanás: “Sei que sou pecador desde que nasci, sim, desde que me concebeu minha mãe” (Sl 51.5);

b) A criança, por já nescer pecadora e, portanto, incrédula, não corre o risco de se tornar uma “adoradora de Satanás”, pois já é uma “filha da desobediência” (um eufemismo de “adorador de Satanás”), assim como todos nós, cristãos, fomos um dia: “Vocês estavam mortos em suas transgressões e pecados, nos quais costumavam viver, quando seguiam a presente ordem deste mundo e o príncipe do poder do ar, o espírito que agora está atuando nos que vivem na desobediência. Anteriormente, todos nós também vivíamos entre eles, satisfazendo as vontades da nossa carne, seguindo os seus desejos e pensamentos. Como os outros, éramos por natureza merecedores da ira” (Ef 2.1-3);

c) A criança não pode ser deixada por demasiado tempo em entretenimentos, sejam eles desenhos animados ou não, pois necessitam de educação bíblica. Se uma criança é constantemente abandonada à “babá eletrônica”, como seus pais poderão dedicar boa quantidade de seu tempo no ensino dos preceitos divinos? “Que todas estas palavras que hoje lhe ordeno estejam em seu coração. Ensine-as com persistência a seus filhos. Converse sobre elas quando estiver sentado em casa, quando estiver andando pelo caminho, quando se deitar e quando se levantar” (Dt 6.6,7).

Se esses três itens não forem observados, é apenas uma questão de tempo para que os pensamentos impuros das crianças frutifiquem, não sendo necessárias supostas “mensagens subliminares” para que mergulhem em abominações divinas. Há evidências de que adolescentes entre doze e dezessete anos com maior exposição a conteúdo imoral em mídia televisiva têm maior propensão à iniciação sexual do que aqueles com menor exposição[6]. Logo, expor crianças e adolescentes à imoralidades explícitas, seja por meio da mídia televisiva ou exemplos familiares e sociais, é regar as sementes de pecado plantadas em um terreno extremamente fértil – a “carne”. Adolescentes incrédulos foram, em muitos dos casos, crianças incrédulas filhas de pais cristãos enganados pelo pelagianismo* (*doutrina que ensona que a criança nasce em perfeita santidade morale torna-se pecadora somente após escolher realizar um ato de pecado conscientemente) pós-moderno e que foram negligentes com a disciplina bíblica (“A insensatez está ligada ao coração da criança, mas a vara da disciplina a livrará dela” - Pv 22.15) e com a diligência no ensino da Palavra de Deus, que nada tem de “subliminar”. Aliás, a Palavra de Deus deve corrigir, conscientemente, os pensamentos pecaminosos das crianças (“Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça, para que o homem de Deus seja apto e plenamente preparado para toda boa obra” - 2Tm 3.16,17).

O gnosticismo é a heresia que está por trás do terror pós-moderno das “mensagens subliminares”. O gnosticismo é a base das “teorias conspiratórias” do mundo de hoje. Para se constatar as semelhanças, basta tomarmos, por exemplo, o evangelho gnóstico de Judas: uma teoria da conspiração de primeira linha! E, semelhantemente aos tempos apostólicos, o gnosticismo continua a deixar as pessoas confusas e inseguras. A ideia de que podemos ser manipulados por aspectos externos ao nosso pensamento não é nova. Os gnósticos do tempo apostólico apregoavam que nossos comportamentos eram produtos de influências externas cósmicas (traços comuns com a astrologia moderna). As “mensagens subliminares” são apenas uma evolução das mesmas ferramentas utilizadas pelos inimigos de Deus numa roupagem mais convincente e engenhosamente “científica”, embora os antigos argumentos ainda tenham muitos adeptos nos dias de hoje (astrologia).

De qualquer forma, não importa como o gnosticismo se expressa nos dias de hoje. Há cinquenta anos ele utilizou os conceitos de “mensagens subliminares” buscando o engano das pessoas. Provavelmente, daqui há cinquenta anos, as teorias conspiratórias buscarão novos “argumentos que só parecem convincentes”. Entretanto, assim como no passado e no presente, a Palavra de Deus foi suficiente para preservar e fortalecer a fé dos santos. E assim o fará no futuro: “Esforço-me para que eles sejam fortalecidos em seu coração, estejam unidos em amor e alcancem toda a riqueza do pleno entendimento, a fim de conhecerem plenamente o mistério de Deus, a saber, Cristo. Nele estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento. Eu lhes digo isso para que ninguém os engane com argumentos que só parecem convincentes” (Cl 2.2-4).

Você está consciente e convencido disso?

Leandro Boer
Membro da Igreja Batista Redenção de São Paulo

Referências:
1.    Treimer M, Simonson M. Subliminal messages, persuasion, and behavior change. J Soc Psychol. 1988 Aug;128(4):563-5.

2.    Subliminal Perception; Philip M. Merikle; Encyclopedia of Psychology (Vol. 7, pp. 497-499). New York: Oxford University Press, 2000.

3.    Marshall SJ, Biddle SJ, Gorely T, Cameron N, Murdey I. Relationships between media use, body fatness and physical activity in children and youth: a meta-analysis. Int J Obes Relat Metab Disord. 2004 Oct;28(10):1238-46. Review.

4.    Thakkar RR, Garrison MM, Christakis DA. A systematic review for the effects of television viewing by infants and preschoolers. Pediatrics. 2006 Nov;118(5):2025-31. Review.

5.    Fouts G, Callan M, Piasentin K, Lawson A. Demonizing in children's television  cartoons and Disney animated films. Child Psychiatry Hum Dev. 2006 Fall;37(1):15-23.

6.    Collins RL, Elliott MN, Berry SH, Kanouse DE, Kunkel D, Hunter SB, Miu A. Watching sex on television predicts adolescent initiation of sexual behavior. Pediatrics. 2004 Sep;114(3):e280-9.

3 comentários:

  1. muito bom, Deus continue te abençoando

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  2. Recebi esse e-mail do Pr. Marcos e o transcrevo, pois complementa as informações acima.

    Leandro:

    Satanás e seus servos não usam mensagens subliminares. Eles ensinam mentiras abertamente, sempre "provando" que o pecado é algo bom e que a Palavra de Deus deve ser desprezada. Não há na Bíblia nenhuma preocupação com mensagens ocultas. A preocupação dos profetas no VT era com a mensagem clara dos pseudo-profetas que mentiam ao povo e os conduziam ao pecado. Também no NT os apóstolos não se preocuparam com mensagens ocultas, mas sim com mentiras ditas às claras ao povo, sempre conduzindo as pessoas à imoralidade, à idolatria e aos desvios de toda espécie.

    Ficar, pois, decifrando mensagens supostamente ocultas dos servos do diabo é perda de tempo, pois fará com que "encontremos" os chifres do diabo onde eles na verdade não estão. Imaginaremos que estão ali, mas foi apenas a nossa cisma que os colocou lá (como vemos em várias partes do filminho contra a Disney). O melhor mesmo é apontar o que os servos do diabo claramente dizem ou sugerem em TUDO o que fazem. Creio que as pessaos não se dedicam a essa análise porque é mais atraente e emocionante se ocupar com o "oculto".

    Essas invenções sobre mensagens subliminares acabam fazendo os crentes se preocupar com coisas bobas (como o nome do gato da Cinderela) e deixando de perceber ensinos diabólicos expostos abertamente não só nos filmes da Disney, mas também nos comerciais de TV, nas novelas da Globo e até nos telejornais. Por isso não me ocupo com isso. Nessa armadilha eu não caio. Fecho com os apóstolos e profetas que condenaram de forma escancarada a mentira dita de forma escancarada. Sei que há ensinos mentirosos que são sutis, feitos na base da sugestão. Mas isso não é subliminar. Pelo contrário, a sutileza é "sobreliminar", está na superfície e qualquer um pode percebê-la facilmente, já que a intenção de quem sugere é ser claro no que diz de forma indireta.

    Um abraço,
    Pr. Marcos Granconato

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  3. Caro Leandrão

    Sempre fiquei reticente com as manifestações, principalmente de irmãos na fé, de que tal desenho, ou tal filme contém uma mensagem subliminar, eu assisti a todos os episódios de Chaves e as malvadezas de pica-pau e aquilo não me acrescentou em nada na maldade que eu já possuia, agora, quando a maravilhosa graça esmiuçou a penha do meu duro coração pecaminoso! ai pude perceber naquelas coisas nada mais do que o Lúdico, realmente não faz diferença uma mensagem subliminar para os que já são filhos da desobediência, vou ficar com o que o Pastor disse: Melhor mesmo é fechar com os profetas do VT e com os apóstolos do NT! vamos ficar atentos as mentiras escancaradas, estou consciente disso! =) bom post! até!

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