sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Igrejas Emergentes (Parte 1)

Há algum tempo escrevi dois artigos sobre igrejas pós-modernas, dizendo que elas apresentam basicamente quatro marcas: hermenêutica relativista, discurso conciliador, ênfase excessiva na liberdade humana e afrouxamento ético/moral (clique aqui para ler as pastorais: parte 1, parte 2). As quatro marcas das igrejas pós-modernas apresentadas ali, porém, de forma alguma abrangem a totalidade das características dessas igrejas. Sim, há outras manifestações do pensamento pós-moderno no meio evangélico e uma delas que muito tem chamado a atenção nos últimos anos é o movimento denominado “igreja emergente”.

É muito difícil encerrar esse movimento numa definição, pois as diversas igrejas associadas a ele têm diferentes ênfases e variadas maneiras de expressão, todas se apresentando como comunidades cristãs emergentes. Porém, um conceito genérico talvez seja possível nos seguintes termos: igrejas emergentes são igrejas pós-modernas engajadas na busca de formas práticas de funcionamento que sejam aceitáveis e atraentes para os homens de hoje.

A pergunta crucial, pois, do “movimento igreja emergente” é: como a igreja pode se tornar relevante e atraente para a sociedade atual pós-moderna? Uma vez que as respostas a essa questão variam muito, o conceito de igreja emergente tem abrangido diferentes modelos eclesiásticos que vão desde o total abandono de qualquer padrão tradicional ou formal de culto até a adoção de práticas e símbolos intensamente místicos e rigidamente litúrgicos.

Podem-se dividir as igrejas emergentes em quatro classes distintas:

1. Conformistas – As igrejas emergentes conformistas entendem que o homem pós-moderno busca formas mais livres de religiosidade, sentindo aversão por qualquer expressão formal ou tradicional de adoração, posto que liturgias assim, segundo entendem, refletem uma mentalidade estreita e rígida demais. Por isso, os cultos e as atividades das igrejas emergentes conformistas buscam reproduzir formas seculares de entretenimento, especialmente shows musicais, danças e “baladas” nos quais recursos visuais e eletrônicos de ponta são empregados (globos espelhados, gelo seco, canhões de luz, etc.). Os cristãos emergentes conformistas entendem que nenhum descrente permanecerá numa igreja se, ao chegar, encontrar os irmãos em oração ao som suave de um prelúdio. Daí a necessidade de medidas práticas que sejam sensíveis às expectativas do incrédulo pós-moderno. Evidentemente, essa preocupação também se reflete na pregação. Geralmente, os pastores dessas igrejas evitam falar sobre pecado, condenação, cruz e arrependimento em seus discursos. Esses assuntos,no entender deles, espantariam os descrentes da atualidade. 

2. Místicas – As igrejas emergentes místicas se opõem frontalmente às conformistas no que diz respeito ao modo como o culto deve ser. Segundo seus representantes, o homem pós-moderno está cansado de espetáculos e shows com efeitos especiais. Essas coisas, dizem, estão à disposição das pessoas em qualquer lugar e o tempo todo. Por isso, no tocante à religião, o mundo pós-moderno nutre uma expectativa mais espiritual, que deve ser acompanhada de símbolos e práticas místicas. Adotando essa visão, algumas igrejas evangélicas americanas têm usado cruzes, incenso, velas, colunas e altares de oração em seus cultos, produzindo um ambiente sombrio semelhante ao das antigas catedrais católicas. No entender dos líderes dessas igrejas, essas coisas servem como atrativo para o homem pós-moderno que anseia por experiências espirituais intensas.
 
3. Pluripartidárias – Esse modelo de igreja emergente focaliza o fato de que, para a mente pós-moderna, há muitas verdades sendo todas igualmente válidas. Transportando esse raciocínio para o funcionamento da igreja, tais instituições oferecem aos seus frequentadores uma espécie de self service teológico. Assim, em suas escolas de ensino doutrinário, há classes para calvinistas, para liberais, para pentecostais e para várias outras vertentes. As igrejas emergentes pluripartidárias dizem não se identificar exclusivamente com nenhum desses modelos, recusando qualquer rótulo. Seus líderes entendem que toda concepção doutrinária é válida e deve ser respeitada. Segundo eles, a visão oposta só serve para criar divisões que atrapalham o crescimento da igreja e a consecução dos seus objetivos.

4. Ultrainformais – Igrejas emergentes ultrainformais apegam-se à desconfiança que o homem pós-moderno nutre contra o caráter das instituições em geral. Seus expoentes ensinam que as igrejas nos moldes institucionais criam barreiras para o evangelho ao tentar impor sobre as pessoas a visão de um só indivíduo ou de uma pequena minoria que, aliás, se beneficia da estrutura formal estabelecida. Reagindo a isso, as igrejas emergentes ultrainformais recusam tudo que ameace institucionalizar o grupo. Por isso, por via de regra, defendem a realização de cultos nos lares (nunca em templos ou edifícios religiosos), opõem-se a todo tipo de hierarquia eclesiástica, desprezam formalidades litúrgicas (o culto busca ser uma celebração livre, criativa e artística em que todos participam de forma espontânea), evitam filiar-se a qualquer denominação religiosa e recusam-se até mesmo a criar um rol de membros. Os representantes desses grupos afirmam que seu modelo é o único verdadeiramente neotestamentário e recorrem a textos como Atos 2.46,47 para tentar provar o que dizem.   

É claro que há igrejas emergentes que, na medida do possível, combinam características de duas ou mais das diferentes classes mencionadas. Todas, porém, têm algo em comum: obter sucesso na atração dos descrentes de hoje, propondo formas de religiosidade que lhes satisfaçam as expectativas, jamais se insurgindo contra as raízes de sua cosmovisão secular.

(Continua)

Pr. Marcos Granconato
Soli Deo gloria

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