domingo, 9 de janeiro de 2011

A Teologia da Pipoca

Os antigos índios norte-americanos não iam o cinema, mas já comiam pipoca. As evidências mais antigas dessa espécie de milho são datadas de 3600 a.C. e foram encontradas no Novo México (Estados Unidos). Os colonizadores ingleses, ao chegarem à América nos séculos 16 e 17, aprenderam com os índios como fazer o popcorn (pipoca). Depois disso, só faltava inventar alguma coisa para acompanhar a pipoca: o cinema.

Desconheço crianças que não se entusiasmem com o fenômeno do estouro da pipoca. Elas, geralmente, ficam empolgadas com o fato de aqueles pequenos grãos duros explodirem se tornando flocos brancos e macios. Desde criança, sempre apreciei mais o fenômeno do estouro da pipoca do que comê-la. Minha frustração era que eu não conseguia enxergar o processo todo, pois as panelas e respectivas tampas da minha mãe eram de alumínio e, portanto, impediam a visibilidade do processo.

Um dia, porém, utilizando as mini-panelas de brinquedo de minha irmã, sequestrei os utensílios de cozinha necessários para o fenômeno e repliquei todo o “experimento” culinário com uns cinco grãos, um pouco de óleo, a mini-panela, uma vela e dois pedaços de tijolo. Todavia, o que eu fiz questão de esquecer foi a tampa! Protegi os meus olhos com óculos de brinquedo e, assim, esperava descobrir quão longe uma pipoca conseguiria chegar no seu vôo explosivo. Consegui replicar o experimento mais uma vez apenas, para um vizinho, até que minha mãe “interditasse” o meu “laboratório pipoqueiro” de uma vez por todas.

Apesar disso, meu paladar pelas pipocas nunca foi despertado, ainda que houvesse inúmeros condimentos que se pode colocar sobre elas. Nem mesmo a famosa manteiga líquida despejada nos cinemas conseguiu me cativar. Pelo contrário, enojei-me até dos assentos do cinema, pois ficava imaginando as pessoas colocando a pipoca na boca e depois limpando a mão engordurada neles. Multiplicando-se o número de pipocas por pacote pelo número de sessões em uma sala de projeção durante um mês, o resultado será uma boa compra de detergente!

Mas o interesse pela “pipocalogia” permaneceu. Hoje, com mais respostas em relação àquilo que tanto me impressionava, continuo interessado na produção desse alimento.

Para tornar-se uma pipoca a semente do milho precisa ser aquecida. Nem todas as sementes de outros vegetais estouram, mas a semente do milho tem essa propriedade, pois o angiosperma (material que servirá de nutrição para o embrião do milho) é envolto por uma rígida camada. Assim, quando submetido ao aquecimento, o pouco de água existente no angiosperma se torna vapor d´água ao mesmo tempo em que o restante do material fica mais “líquido”, mais “derretido”. Quando a temperatura no interior da semente chega a 180ºC, a pressão atinge aproximadamente 135 psi (libras por polegada quadrada), quase a pressão atingida pelas locomotivas a vapor que movimentaram, por décadas, toda a economia da Inglaterra. Isso é o suficiente para que sua casca seja rompida e ejete o endosperma derretido. Esse material sofrerá resfriamento imediato levando à polimerização de proteínas e à aparência de floco branco. 



Ao explodirem, as pipocas podem adotar duas conformações: “cogumelo” ou “borboleta”. As espigas de milho contêm as sementes que gerarão as duas formas, mas, hoje, já existem espigas híbridas que geram pipocas apenas do tipo escolhido. A forma “borboleta” é a mais comercial, pois provoca uma boa sensação na boca. É mais macia e não se sente tanto a casca ao mordê-la. A forma “cogumelo” é mais dura e comumente utilizada para confeitaria como pipocas caramelizadas.


É interessante notar que não há nada na semente que a faça explodir em pipoca espontaneamente. É necessária uma atuação externa: a alta temperatura. Se alguém não expuser o milho à alta temperatura, as sementes continuarão assim como são: duras e amareladas.

A salvação da alma pode ser comparada ao estouro da pipoca. Não há nada em nós, “duros e amarelados”, que faça com que estouremos em uma “nova criatura macia e branca”. Houve, um dia, uma atuação externa. O “calor” da pregação do evangelho fez “borbulhar” nosso coração fazendo-o estourar a “casca do pecado e rebeldia” contra Deus. O “calor” da pregação do evangelho genuíno “esquenta” sobremaneira o coração e é impossível conter o “estouro” da conversão.

Por outro lado, recordo-me dos “piruás”. Sementes de milho que foram colocados no intenso calor, mas não se tornaram pipocas. Simplesmente, não estouraram como as outras. Pelo contrário, o intenso calor fez com que se tornassem mais duras e secas. Não são raras as fraturas dentárias e danos a aparelhos ortodônticos naqueles que se atrevem a mordê-las.

Comparativamente, também existem os “piruás espirituais”. São pessoas que foram expostas ao “calor” da Palavra de Deus, mas, ao invés de irromperem-se numa nova forma “macia, branca e nutritiva”, tornaram-se mais “duros e secos”.

Na “espiga da humanidade”, surgiram e surgirão várias “sementes” desde Adão. Todavia, até que elas sejam colocadas sob o forte “calor” do evangelho, essas “sementes” são idênticas. O forte calor faz com que as sementes, ao estourarem, adotem formas diferentes! Agora, macias e nutritivas, revelam uma aparência diferente de quando comparadas. Como sabemos, existem dois tipos de pipoca (“cogumelo” e “borboleta”), mas, mesmo entre as de mesmo tipo, não há duas que sejam idênticas. Da mesma forma, existem dois tipos de cristãos, os “quentes” e os “frios”. E entre os cristãos frios não há dois iguais. Igualmente, entre os cristãos quentes não há dois iguais.

O estouro da conversão faz com que sejamos cada vez mais parecidos com Cristo, mas, surpreendentemente, respeitando as nossas diferenças, nossas características humanas. Aliás, é justamente o “estouro” da conversão que evidencia quão únicos nós somos e quão formosos. Até que isso tivesse acontecido, éramos mais um “grão enterrado nas sacas do mundo”.

Também é notável como uma semente que se tornou pipoca não é tão chamativa como quando ela está acompanhada de outras pipocas num mesmo saco. A aparência vistosa apenas existe quando as pipocas estão todas juntinhas. Suas diferenças no formato, ao invés de as manterem desunidas, fazem com que elas se engarranchem umas às outras. Quando a mão do consumidor vai ao pote, ele sempre traz vários flocos à boca.

Semelhantemente, assim são os cristãos na formação da Igreja. Nossa beleza não está em nossa singularidade, mesmo sabendo que a temos. Nossa real beleza está no “pacote” todo, ou seja, na Igreja de Jesus, o dono de todo o “pacote”. Todos nós, diferentes como somos, “enchemos a boca” de Jesus Cristo com a sensação de satisfação única.

Todos nós somos “sementes”, mas nem todos virarão “pipocas espirituais”. A mesma “espiga de Adão” continua gerando “sementes” que virarão “pipocas” e “piruás” sob o “calor” da Palavra de Deus. Essa é uma decisão do Criador da “espiga” e ela é justa e perfeita em sua mente, por mais que não consigamos entendê-la.

Se você já é uma “pipoca celestial”, cabe a pergunta: você está no “pacote” juntamente com o restante das “pipocas”? Lembre-se, se você é uma “pipoca”, mas não está no “pacote”, você deve estar no “chão” e, em breve, será “pisoteada” e “varrida”.

Se você não é uma “pipoca celestial”, ao sentir o “calor” da pregação do evangelho, permita, pela fé em Cristo, que a nova criatura irrompa-se da “casca de pecado” em que vive. Você finalmente enxergará sua verdadeira personalidade, sua verdadeira beleza, pois será dada pelo Espírito Santo.

Agora, se você já escutou a Palavra de Deus, foi “aquecido” intensamente por ela, mas uma nova criatura não se irrompeu, provavelmente você se tornou um “piruá espiritual”. E, assim como nas bacias de pipoca, sabemos qual é o destino dos “piruás”...

Leandro Boer

Um comentário:

  1. Muito legal Leandro, ótima ilustração do alcance do pecador, o link foi perfeito, é praticamente auto-didático...

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