Com a falta de chuvas, tive de começar a regar minha grama quase todas as noites para que ela não morra. Esse novo hábito me fez prestar atenção ao meu jardim como nunca antes. Quando isso aconteceu, o mato começou a me incomodar e tive de cortá-lo com um aparador de grama. Percebi, também, a existência de formigueiros e passei a combatê-los. As folhas secas das árvores caídas por todo o terreno se tornaram cada vez mais insuportáveis de ver, a ponto de me levar a recolhê-las. No processo de juntá-las, descobri algo que me deixou pensativo.
Tenho duas árvores que, uma após a outra, dão as flores arbóreas mais bonitas que já vi, depois do ipê-amarelo e da cerejeira. Uma delas dá uma flor com um tom rosa-claro muito delicada e a outra, uma flor um pouco mais escura e vívida. As duas são lindas! Duram cerca de dez dias e depois caem. Enquanto eu varria as folhas, percebi uma palha estranha e difícil de varrer embrenhada no meio da grama. Ao reparar mais com mais atenção, reconheci as flores que eu tanto admirei duas semanas antes. O que antes era belo e inspirador, agora se apresentava em forma de uma sujeira muito difícil de remover. De certo modo, perceber isso foi chocante para mim.
Enquanto o trabalho continuava, refleti sobre como as pessoas, às vezes, são como aquelas flores. Lembrei-me de alguns irmãos que tinham vidas belas ao lado do Senhor e do seu povo e que, agora, vivem como incrédulos, sem se importar com a Igreja, com o Evangelho e com o Salvador. Percebi que, apesar da condição perpétua que possuímos por causa da fidelidade de Deus, devido à transitoriedade da nossa fidelidade, o que é comunhão em um dia, pode se tornar indiferença e rebeldia no outro.
Isso é muito triste! Mais triste ainda foi lembrar de um irmão a quem exortei pelo abandono da santidade. Diante da minha reprimenda, ele se valeu de tudo que já tinha feito no passado. Era como se o presente não importasse. Ele exibia seus feitos gloriosos como se valessem alguma coisa no sentido de amenizar o pecado do presente. Foi como ver aquelas flores que, semanas atrás, estavam lindas, mas que, agora, apodreciam e cheiravam mal.
O apóstolo Paulo não teve atitudes como essa. Ele fez o contrário. Mesmo tendo um passado glorioso do qual se orgulhar e diante da possibilidade de não sair vivo da prisão, sua atitude foi esta: “... uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão, prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus” (Fp 3.13b-14). Para Paulo, o passado estava no passado e o que importava era o presente. Seu objetivo era viver cada dia para o Senhor.
A atualidade da vida cristã e o aspecto de urgência em se obedecer ao Senhor e nutrir comunhão com ele e com seu povo, foram objeto de minha reflexão enquanto varria toda aquela palha. Por incrível que pareça, meu corpo estava cansado ao final, mas meu espírito ardia de anseio por conhecer melhor a Deus e por servi-lo “hoje”. Afinal, quem vive apenas lembrando da aparência das flores, nem percebe quando elas viram palha.
Pr. Thomas Tronco
Nenhum comentário:
Postar um comentário